Fisiologista do exercício formado pela Unifesp, ex-atleta olímpico, sócio da clínica NutriAtivo, em São Paulo, Paulo Correia ajuda gente de alta, média e baixa performance em qualquer setor da vida a viver melhor com suas orientações de atividade física porreta e de nutrição balanceada.
Ele volta a estas páginas para deslindar outra questão que preocupa corredores relaxados e procrastinadores, que, como alguém aqui, deixam para amanhã o que dá para treinar hoje.
São os célebres atletas de dom Helder: olham seguidamente para o céu, mas só para ver se vai chover. E, ao menor sinal de garoazinha, nem colocam o time em campo.
A questão é: você perde condicionamento se deixa de se mexer por 72 horas, como reza o cânone?
Jornalistas que Correm – Perde?
Paulo Correia – Isso é mito. Não se perde condicionamento físico em 72 horas. Quando vamos para uma competição de alto nível (pan-americano, meeting etc), é um período próprio para recuperação dos efeitos lesivos do treinamento. É o tempo de nossas reservas energéticas voltarem à plenitude, o ápice da supercompensação. Isso se dá em dois ou três dias, dependendo da prova.
Pode gerar confusão montar um programa de treinamento, e nele a pessoa ficar sem treinar por um, dois ou três dias. Uma certa fase do programa exige acúmulo de trabalho, e perder um dia pode ser prejudicial. Aí não se trata de descanso. Num treinamento decente, até o descanso é programado.
JQC – Mas pensando num sujeito que está longe do alto rendimento, ainda que venha baixando tempo nas meias maratonas, por exemplo, esse período perdido continua sendo inócuo?
Correia – O problema é a causa da parada. Há muitas situações. Durante a fase competitiva, se um corredor tem dois dias de descanso e acrescenta mais um, não há problema. Se estiver numa fase de preparação e fugir da programação, poderá não ter ganho. Se a parada acontecer por uma gripe, por exemplo, terá perda de condicionamento, mas parar é necessário.
Enfim, quem dita se a parada é benigna, maligna ou sem consequências é o programa de treinamento. Se há uma semana de treinos de força e três dias são perdidos, isso será catastrófico.
Por fim: atletas de alto rendimento treinam para atingir um resultado numa determinada data. Não é comum, entre eles, essa frequência de provas que há na corrida de rua, quase uma por semana. Melhorar o tempo em cada uma é impossível. Aliás, é possível quando se é iniciante.