Solonei se frustra em Amsterdã

Paulo Vieira

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Não bastasse o desprestígio generalizado que os cardeais da maratona devotam à Maratona de São Paulo, preterindo-a pela do Rio, pela de Buenos Aires, pela de Paris e até a de Santiago, ontem fez 30 graus às 8 da manhã em horário novo. Jogar a prova para o primeiro domingo de horário de verão não ajudou. O calor foi selvagem.

Mas eu não estava lá, ao contrário do ano passado, e se estivesse inscrito talvez refugasse. Refuguei ontem inclusive minha corrida solitária até o Pico do Jaraguá, que seria a reestreia gloriosa no eixo Santa Brígida após os 58 dias de exílio forçado. Iria para lá mesmo que tivesse de pegar o Alstom/CPTM na estação Vila Clarisse na hora de voltar. Mas não rolou.

Mas este post não é sobre mim. Aleluia, irmãos, dirão vocês. É sobre Solonei Silva, um dos quatro principais maratonistas do Brasil em atividade, que ontem foi o décimo colocado na maratona de Amsterdã. Décimo entre todos os atletas que competiram. Falei com ele logo depois da prova, em que cravou 2:17:22, sete minutos além do objetivo. Mais uma vez ele não conseguiu bater seu recorde, 2:11:32, que persiste desde 2011.

É a sua pedra no sapato. Solonei, ex-coletor de lixo em Penápolis (SP), onde nasceu, ouro no Pan de Guadalajara em 2011, trocou de equipe e treinador na virada do ano. Ele colheu dois resultados animadores este ano em provas mais curtas, mostrando que o sonho de participar da equipe brasileira de maratona no Rio-2016, quando estará com 34 anos, persiste. Ele falou com o JQC.

 

Solonei posa para a Runner's/Foto: Renato Pizzutto
Solonei /Foto: Renato Pizzutto/Runner’s World Brasil

Jornalistas que Correm –  Você não conseguiu o tempo que queria, mas foi o único brasileiro de alto rendimento a chegar. Frustrado ou orgulhoso?

Solonei Silva – Frustrado, claro! Pois ninguém vem até aqui para parar! Sabemos da dificuldade de ser um atleta de alto nível, treinar três meses para uma prova e não terminar. Não é legal!  Não chegar ao resultado desejado também não nos deixa tranquilos.

JQC – 
De nossa última conversa, em março, até hoje, em que diria que está melhor?

Solonei Silva – Estou melhorando meus resultados. Só não melhorei na maratona, a única prova em que o treino não pode ser levado ao pé da letra em relação ao resultado. Meus resultados no 10K e nos 10 mil metros comprovam que evoluo em velocidade. Afinal, são poucos os que têm um sub 29′ para a distância. (Solonei cravou 28’50” nos 10K da Tribuna de Santos, em maio, prova em que foi terceiro colocado, o brasileiro melhor colocado. )

 JQC – O que faltou em Amsterdã?

Solonei Silva  –
Não tenho como responder, me preparei para a prova, às vezes é o dia da caça. Quebrei o ritmo no final. (Nos últimos dois quilômetros, Solonei se arrastou: precisou de 8’38” para percorrê-los, uma eternidade para um corredor de seu nível, cujo melhor pace na primeira parte da prova foi de 3’01″/km. )

JQC -Como está a faculdade de educação física em Bragança Paulista (SP) e os planos para o primeiro filho? Só depois dos Jogos do Rio?

 Solonei Silva  – Faculdade, continuo firme e forte, tenho que me dedicar mais aos treinos e isso não mudará, mas acredito na minha formação! E quanto ao filho, sim, vou viajar muito (para competir), e minha esposa ainda não terá terminado a faculdade também, então é o mais prudente a se fazer!

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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