Jader Pires se meteu na lama e conta sua experiência em uma corrida com obstáculos

Julia Zanolli

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Qual é o barato desta história de “superar limites”? O chavão repetido à exaustão no universo esportivo encontra na corrida e em suas provas ardilosas um bocado de oportunidades.

Maratona, ultramaratona, triatlo, off road… o céu é o limite. E as corridas com obstáculos estão chegando com força no Brasil para engrossar o coro da superação.

No caso do jornalista Jader Pires, de 31 anos, o interesse por esse tipo de prova surgiu na academia, onde faz treinos funcionais. No último final de semana ele participou da Bravus Race, uma corrida de 5 K com 15 obstáculos pelo caminho.

Jader largou a publicidade, a experiência de sete anos em um banco e foi escrever. Hoje, é editor do site de conteúdo masculino Papo de Homem e lançou recentemente seu primeiro livro, “Ela Prefere As Uvas Verdes” (que você encontra com um bom desconto aqui).

Abstêmio, ex-fumante e de bem com a vida, ele já superou obstáculos bem piores na vida do que  troncos em chamas e muros de 5 metros de altura. Confira abaixo o relato de Jader sobre a Bravus Race.

Jader e sua companheira, Lili, no astral depois da prova

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A trajetória era de desistência. Eu já levava uma vida sedentária quando, em 2011, eu quebrei o tornozelo em um revival de skate com amigos e o resultado foi de cinco meses de molho, tempo que me fez ganhar 13 quilos. Naquela altura do campeonato, beirando os 30 anos e fumante desde os 13, a desistência que eu poderia considerar como mais justa era a do condicionamento físico.

No último domingo, três anos depois, eu estava me aquecendo para a última bateria da Bravus Race, uma prova de corrida com 15 obstáculos como lama, arame farpado, fogo e rampas íngremes. São 5 K de barricadas, redes de proteção, paredes de madeira, pesos, cordas e buracos. Mas precisei muito mais de cabeça do que de músculos para completar a prova.

Esqueça o trabalho dos bíceps, a força nas pernas, elasticidade. Claro que essa bagagem foi necessária para atravessar pneus colados no chão ou uma parede de cinco metros de altura que só pode ser ultrapassada subindo por uma corda. Mas o que não faltou foi marmanjo ficando pelo caminho e modelos fitness penando na areia, na lama e no gelo.

Estamos em tempos de experimentar. O Crossfit pegou mesmo no Brasil e, se antes o ideal era puxar ferro e ver o tórax bombando no supino, hoje – com treinos funcionais que visam equilíbrio e força em tarefas reais – a necessidade é de testar novos conhecimentos motores. Daí a necessidade e oportunidade de se criar, por aqui, provas de resistiência como a Bravus. Mais de 4 mil participantes estavam no Jockey Club de São Paulo logo cedo.

Cabeça
A prova tentou derrubar minha confiança o tempo todo. Barreiras em todo o percurso, paredes de 2,5m a serem saltadas, um tanque de água e gelo que bagunçou completamente minha respiração, um buraco de lama que trabalhou claustrofobia e ansiedade. As pessoas chegam com medo e aflições diversas em suas baterias. O aquecimento guiado pelo locutor ajuda a esquecer o que está por vir e algumas risadas ainda vão saindo. Na hora da largada, as pessoas corriam em disparada como se fosse menos doloroso encarar de vez o que estaria por vir.

A entrega é o grande barato. Mesmo sendo uma emulação de dificuldades impossíveis, tudo lá é relativamente fácil de transpor. Claro que o esgotamento do corpo é total quando se acaba, mas é fácil embarcar no espírito coletivo de “sobrevivência” e aproveitar da catarse.

Era muito fácil ver pessoas se ajudando, fosse dando a mão paxa puxar de dentro da lama ou com palavras de apoio, berros de incentivo.

Uma a uma as barreiras iam ficando para trás, barricadas e tocos de madeira que eram levados de um ponto a outro em duplas, se pendurar em fileiras de barras para não cair em um buraco de água lamacenta.

Corri, pulei, dei berros, chamei as pessoas, empurrei gente, fiquei coberto de barro de cima abaixo. Corpo sujo de lama e alma limpa. Nessa altura do campeonato, já não havia desistência a ser considerada.

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Julia Zanolli

Julia Zanolli começou a correr em nome do bom jornalismo quando foi trabalhar na revista Runner’s World sem entender nada do assunto. A obrigação virou curtição, mesmo depois de sair da revista. Se livrou do carro para poder andar a pé pela cidade, mas é fã assumida de esteira. Prefere falar de comida do que de nutrição e acha que ter tempo é muito melhor do que matá-lo.

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