Ele não vai deixar eu usar a palavra superação

Paulo Vieira

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Autocomiseração não é com ele. Se fosse, talvez não tivesse ido a Noronha, Turquia, Canadá e não sei mais para onde, alguns dos destinos onde esteve nos últimos 12 meses como editor da Viagem e Turismo. Se a gente não suporta a classe econômica, para ele é um cadinho pior.

Para correr também dá um pouco mais de trabalho. No dia que eu saí da minha invernada de 58 dias, ruminei um bom tempo se devia mesmo deixar aquela cama. Torci por uma chuva que, se viesse, me daria uma boa desculpa para adiar o fim do tabu. Não veio, e aí foi só colocar o minimalista e tchau e benção, como diria meu pai.

Com ele, como dizia, dá mais trabalho. Sem considerar o deslocamento até seu carro, só a partir do momento em que chega à USP ou ao Ibirapuera, são 40 minutos entre sair do possante, desmontar da cadeira e montar a handbike. Se tiver um camarada para ajudar, melhor. Se não tiver, é noyz também.

Mas Bruno Favoretto, Bruno Favorito, como diz seu simpático chefe, o Almir, está de volta às pistas. Depois de ter, qual Gesu Bambino, concluído a maratona de Nova York em 2011, ele meio que deixou de lado. Veio a separação, cirurgias, o trampo na nova revista. Mas agora ele voltou.

Das antigas
Das antigas

Bruno odeia servir de inspiração ou modelo. Talvez ele me permita esse pecadilho hoje, véspera de seu aniversário de 32 anos. Não sei como ele contou detalhadamente como deixou de contar com o movimento de suas pernas, atingido pelo disparo de metralhadora de um PM paulista na estação Bresser do metrô, em 2000, quando tinha 17 anos. Talvez para justificar a premiada matéria da revista Runner’s que o levou a correr a maratona da Maçã.

O pujante governo paulista, responsável pela PM, jamais pagou-lhe qualquer dinheiro, seja a título de indenização, seja para ressarci-lo pelas operações, remédios e reabilitações que teve e tem de encarar.  Quando a gente fica sabendo que o fotógrafo Alex Silveira é considerado pela justiça paulista culpado pelo ferimento à bala que lhe tirou 80% da visão de um de seus olhos, bala também disparada pela PM paulista, talvez tenha de se render aos fatos: dá para chamar o poder paulista de tudo, menos de incoerente.

Nada que faça o Bruno ficar maldizendo seu próprio destino. Muito pelo contrário.
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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

2 Comentários

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    Diogo Silva - vulgo Yuclas da Mooca!

    É. Tenho orgulho demais desse menino de quase 32. Menino esse que fez parte de quando eu era menino. Quantas risadas, experiências, loucuras de ninfetos que eramos, e vivemos isso!…intensamente!..a vida nos separou e agora nos concedeu vossa graça de nos reencontrar e relembrar as coisas boas!…Dramas, sim passamos, muito obrigado!…mas como o colega cita acima, para o Bruno Favoreto, isso nunca foi empecilho para se deixar viver e conceder a possibilidade de continuar!…quero o abraço ao vivo, Grande e Eterno amigo, Brunão!!!

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    Fernando candiotti

    Infância inteira praticamente a seu lado…. Não só em brincadeiras… Baladas….trabalho… Tudo sempre estávamos juntos…. Realmente a distância nos separou e vendo esta matéria fico me lembrando de que sempre foi um homem com foco e dedicação !!! Tenho muito orgulho e fico contente por seu sucesso !! Admiro !!! Saudades

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