Leões da corrida de montanha

Paulo Vieira

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Corrida de montanha opção à corrida de rua
Está na montanha é pra se molhar

Embora esteja num momento Paulinho Paz e Amor com a corrida de rua – ando seguindo, no Parque Villa-Lobos, o treino moderado prescrito pelo Diego, professor da 5 Ways que não fica muito feliz quando digo que vou e volto ao Pico do Jaraguá -, não consigo deixar de olhar para as montanhas que limitam São Paulo a norte, pertencentes à popular Serra da Cantareira, sem derramar uma lágrima furtiva. Uma lágrima por não estar lá.

Mas tem gente que vai estar lá, correndo, no próximo dia 27. Ali, na vertente Mairiporã-Nazaré Paulista da Cantareira, na misteriosa Pedra Vermelha, irá acontecer mais uma etapa da Copa Paulista, torneio organizado pelo Fábio Galvão, dono da Corridas de Montanha, empresa pioneira das corridas de montanha no Brasil. São 12K na categoria longa, um aperitivo para o povo que vai fazer os 42K da Chapada Diamantina, na Bahia, também com ele, em 16 de novembro.

Já falei longamente aqui sobre a beleza de abrir porteiras em Cunha ou percorrer estradas de terra escondidas em Campos do Jordão, mas o desafio dos 200 a 800 corredores que o Fábio leva para cada uma de suas corridas é um pouco maior. Os sujeitos têm de enfrentar pirambeiras, pastos, locais onde é virtualmente impossível correr, descidas que podem ser relativamente perigosas.

Se existe uma inflação de corridas de rua nas cidades, nas montanhas a coisa parece trilhar, guardadas as proporções, um caminho similar. Fábio quer passar das 16 provas de 2013 para o dobro disso o ano que vem. E não está sozinho nessa: ele conta existir hoje cerca de 20 empresas organizadoras. Em 2004, quando montou sua primeira prova, em Extrema (MG), influenciado pelas corridas que fazia em Toledo, na Espanha, onde morou por um rato, não havia nem cheiro desse negócio no Brasil.

“A corrida de montanha pede um treinamento espiritual maior que físico”, me disse por telefone de seu escritório em São Bento do Sapucaí. “Alguns iniciantes me perguntam se vão conseguir terminar”, disse. “Eu digo que basta um preparo físico mínimo, algo que eles já têm, habituados que estão a correr nas cidades.”

Mas há uma diferença importante. “O corredor não pode pensar que irá correr o tempo todo. Há horas que nem mesmo trotar ele vai. A filosofia da rua não se encaixa na montanha, onde não tem nenhum problema caminhar. Na verdade ele vai precisar ter consistência justamente na hora de caminhar.”

(Em dado momento da conversa ele contou, como ilustração desse tema, que disse a um conhecido que chegaria primeiro do que ele, mesmo o conhecido largando correndo, e ele, andando; nessa hora me veio à cabeça o paradoxo de Aquiles e a tartaruga, contada pelo filósofo pré-socrático Zenão: vale o seu google.)

No site há vídeos de suas corridas e algumas tomadas parecem um castigo sem fim, como uma de Santo Antônio do Pinhal, ano passado. Por outro lado, a paisagem é magnífica. E a fixação em baixar tempos, de correr com o relógio, não está completamente abandonada aqui. É bom lembrar que se trata de uma competição contra outras centenas de participantes e, se o sujeito for um heavy user, contra seu próprio tempo em edições anteriores.

Difícil é cuidar do adversário e do próprio tempo parando para fotografar a todo instante.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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