A melhor coisa do jornalismo colaborativo é a segunda palavra da expressão. Você recebe colaborações de quem só fez contato virtual e, mesmo que não haja $$ envolvido, vem coisa boa.
Ou muito boa.
Como o texto a seguir, sobre a estreia na maratona da jornalista de Brasília Dagma Caixeta de Macedo, que completou a mítica prova do Rio em 5:25:59.
*****************
Entrei no mundo da corrida no início de 2009, quando meu peso superava a casa dos 90kg. Na minha primeira corrida, em que mais andei do que corri, fiz 5K em doloridos 46′, mas isso não foi motivo para me fazer desistir: fiz mais três provas de rua naquele ano.
Em 2010, além de seguir participando de corridas de rua em Brasília, decidi procurar um nutricionista para me ajudar na perda de peso. Com isso, consegui emagrecer 20kg.
Em 2012, já mais magra, procurei uma assessoria esportiva. Meu treinador, a quem chamo carinhosamente de “Malvadeza” (André Jabur), já treinava minha irmã, quatro vezes maratonista.
Decidi procurá-lo a despeito de ele morar em outro estado, e assim comecei um trabalho sério de treino que tem funcionado muito bem. Detalhe: só fui conhecê-lo pessoalmente no ano passado, em Pirenópolis, quando ele foi participar da 21K de lá e eu passava um fim de semana naquela cidadezinha inspiradora.
Quando ele topou me treinar, me pediu uma meta. Eu, que já vinha correndo 10K (bem acima de 1:10), propus diminuir meu tempo nessa distância (meu recorde no 10K é 58’; no 5K, 28′) e defini que em 2012 faria uma meia maratona.
Metas estabelecidas, metas cumpridas! Em novembro corri a Golden 4 Asics de Brasília em 2:15′. Naquele mesmo ano encarei a minha primeira Volta Internacional da Pampulha.
Desde que comecei a correr, em 2009, acumulo mais de 60 provas completadas, de 5K a 16K, além de três meias e duas Volta da Pampulha.
Mas a ideia de correr uma maratona nunca havia passado pela minha cabeça até meados de 2013, quando uma dor na minha perna esquerda, acompanhada de dormência, me levou ao hospital. A suspeita inicial de inflamação no ciático se revelou, na verdade, uma discopatia degenerativa de algumas vértebras da coluna. Pense numa dor.
Na mesma época, minha irmã Delma descobriu um tumor na paratireoide logo depois de correr a Maratona de Porto Alegre. Ainda nas investigações do que poderia ser o motivo das minhas dores e dentro da máquina de ressonância, prometi a mim mesma que, não sendo aquilo algo que me deixasse impossibilitada de correr, e se o tumor da minha irmã, mãe de três crianças pequenas (o mais novo tinha um aninho à época) regredisse, eu faria uma maratona. Não era uma promessa, mas uma forma de agradecer e celebrar a vida.
Então, como felizmente tudo ficou bem para mim e para ela, escolhi a data e o local: 27/07/2014, Rio de Janeiro.
Em 25 de julho eu e o Norberto, meu marido, companheiro de todas as horas e aniversariante do dia, rumamos para o Rio para eu cumprir esse desafio que, seguramente, foi o maior da minha vida.
Na véspera da prova estava lendo a revista oficial da maratona e me bateu o desespero e a certeza de que eu não conseguiria sequer chegar à metade. O fracasso era certo. Na hora que me dei conta desse pensamento, deixei a revista de lado e saí para jantar, afinal, eu precisava garantir minha reserva de glicogênio para o dia seguinte.
No domingo, o grande dia, o relógio tocou às 4h45. Saltei da cama, me arrumei, conferi tudo o que tinha pra levar (esqueci os pedaços de rapadura que o Norberto arrumou cuidadosamente pra mim) e descemos para o café da manhã.
Chegamos ao Recreio dos Bandeirantes ainda escuro. Daquele momento em diante não havia mais medo, apenas uma certeza: ou encarava ou levaria para sempre comigo a certeza de ter fracassado antes mesmo de começar esse desafio que eu mesma me propus.
Chovia, e o que pensei que poderia ser um adversário se revelou meu grande prêmio: para quem treinou no “deserto” de Brasília por sete meses, quatro dias da semana no asfalto quente (dois dias dedicados à musculação pra fortalecer o “core” – nunca tinha ouvido essa palavra até descobrir meu problema na coluna), correr ora debaixo de chuva, ora debaixo de garoa soou como uma deliciosa recompensa.
Foi dada a largada, e lá fui eu no meio de 7 mil atletas, cada um com seus motivos para estar ali.
A cada quilômetro corrido era como se eu vencesse a mim mesma e ao meu pessimismo. Não olhei para trás um minuto sequer. Foi um trabalho mental que me fez subir o temido elevado do Joá e logo em seguida encarar a avenida Niemeyer correndo, devagar e sempre. Mais à frente, quase que sem ver, ultrapassei o “muro” dos 30K. Cheguei a Copacabana. Naquele dia chuvoso poucos foram os que se arriscaram a sair de casa para apoiar os atletas e estender suas mãos para nós.
Ainda dentro do último túnel que eu teria que vencer, vi um pórtico. Jurava que já era a chegada. Perguntei a um atleta que caminhava vacilante: “Moço, ali já é a chegada?” Ele apenas sinalizou que ainda faltavam três (longos) quilômetros.
Eu não conseguia acreditar que havia vencido 39K correndo. O máximo que fiz nos famigerados longões foram 32K e ainda assim com paradas para hidratação e caminhadas. Jamais correndo ininterruptamente.
Pouco antes dos 40K, os meninos do estafe faziam a festa para os “retardatários” como eu. Eles pulavam e cantavam a música tema do “Esporte Espetacular”. Era a forma de nos incentivar. Foi lindo!
Nesses dois últimos quilômetros, apesar de as pernas já estarem cansadas, vi que eu poderia ousar. Na mesma velocidade que eu aumentava o ritmo, as lágrimas caíam. Um homem gritou: “Ô, 44 (meu número era 2644), falta pouco. Você já é vencedora!” Mais adiante um outro atleta, que já estava com a medalha de finisher pendurada, batia palmas e dizia: “Só faltam 800 metros. Está pertinho!”
No 42K eu vi o Norberto. Ensopado pela chuva, de máquina a postos. A única coisa que eu consegui dizer a ele foi: “Eu consegui!”
Não há dúvidas: eu consegui! Eu renasci! Eu sobrevivi! Diferentemente de Fidípides, eu sobrevivi!
Longe de qualquer pretensão, estou com meu nome escrito na história daqueles que se propõem e conseguem completar uma maratona.
Desde então, todas as vezes que olho pra minha medalha e lembro de cada quilômetro vencido, choro.
Foi lindo! Será inesquecível! Sou maratonista!
Chorei. Relato inspirador. Valeu ler cada linha. Como vc, sou jornalista e maratonista. Parabéns e que novos desafios a levem ainda mais longe.
Obrigada, Cláudia Brasil. E parabéns para você também. Que venham novos desafios para nós. Forte abraço.
Isso é o que define o ser ATHLETA: aquele que enfrenta as adversidades, o guerreiro, o combatente, aquele que não desiste de lutar, sabendo ser o certo e o justo a ser feito.
André “Malvadeza”, você sabe que sem seu excelente trabalho e seu lado “psicólogo” isso não seria possível. Sei que grande parte dependeu, claro, exclusivamente de mim, mas você é fundamental para que eu tenha chegado onde cheguei (ainda que “devagar e sempre”). Abraços, mestre!
LINDO ! Chorei !
Obrigada, Joyce. Correr uma Maratona é realmente uma experiência incrível. Abs.
Parabéns, Dagma, pela sua determinação, você é guerreira, muito bacana seu relato! Sou jornalista e corredor e estou me preparando para correr minha primeira meia daqui a um mês, me inspirou a estabelecer minha próxima meta, correr minha primeira maratona em 2015.
Obrigada, Rogério! Sim, encare esses 42.195m de frente. O medo de não conseguir é real, mas a certeza de que somos capazes de fazer aquilo que queremos é o que nos empurra pra frente. Sucesso na sua Maratona em 2015 e venha aqui contar a sua história de superação também. Abs.
É inspiradora sua história!!! Toh lutando para fazer uma meia maratona!!! Foco é fé
Dany, você vai conseguir. Se eu consegui, você também consegui.