Kauana Araújo, repórter e colunista do site Running News, apareceu com muita cortesia outro dia no meu e-mail perguntando se poderia contar sua história com a corrida aqui no JQC.
“Uma honra”, não devo ter dito, perdendo outra ótima oportunidade de fazê-lo. Além de excelente história de superação, especialmente contra a balança, que a incomoda(va) desde criança, essa paulistana, puquiana, palmeirense e vegetariana escreve bem.
Como diria meu genial amigo Alexandre Correa Lima, ela é boa de “penas e pernas”.
(Quando Lima publicou essas palavras mágicas num comentário sobre este post meu, eu me senti um Dzi-Croquette).
O mais curioso é que, tal como para este velho editor, a Maratona do Rio é prova-chave para Kauana. Ela completou os 42K cariocas uma vez e parte para nova tentativa, este ano. No texto que vocês lerão abaixo, curiosamente, ela termina de uma maneira muito similar a este outro texto, meu, aqui.
Ainda não havia o JQC, e eu publiquei a minha história com a corrida no blog do Serginho Xavier, o Correria, na Runner’s, que ele me cedeu em comodato por dois dias. Eu estava justamente para fazer a prova do Rio – mas a meia.
Sem mais delongas. Se isto aqui fosse um texto dramatúrgico, eu diria “quebra a perna, Kau”.
Foi mal.
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Meu nome de nascença nunca me agradou, mas lá vai: Kauana Araújo. Alguns preferem Kakau e a família, desde quando eu era bem pequena, me chamava de Kaká ou bebê-bola. Este último apelidinho permaneceu na minha vida até a adolescência.
Os que imaginaram uma Kauana gordinha na infância acertaram: eu era aquela pequena japonesinha acima do peso e adorada por todos. Mas o que poucos sabiam é que aquelas gordurinhas iriam prejudicar a minha saúde e, de quebra, me frustar. Ainda que minha mãe sempre fizesse com que eu comesse de modo saudável, eu era rebelde, e levava ao prato o que eu desejava comer.
A conclusão vocês já devem ter em mente: fui uma criança gordinha e também uma adolescente gordinha. Gordinha porém hiperativa, pois frequentei aulas de balé e kung fu, adorava educação física e era muito boa no handebol. Com tudo isso, apesar de todo meu esforço para perder os quilinhos a mais, eles, zelosos, nunca quiseram me abandonar.
Cada vez mais preocupada, em 2010 me inscrevi numa academia, procurei um nutricionista e tentei, aos poucos, ir mudando meus hábitos.
Não adiantou: comia escondido a mais, burlava os exercícios propostos e permanecia triste com a minha forma física.
Eis que, em uma ida à academia, conversei com uma mulher que dizia ser corredora. Nesse esporte, ela disse, descobriu uma vida nova, eliminou quilos. De quebra, fechou um percurso de 10K. Pensei comigo mesma que eu jamais conseguiria algo parecido, que correr não era para mim e que, quer saber, onde já se viu gordinhas correrem?!
Mas o destino e, não sejamos modestos, minha força de vontade, conseguiriam mudar minha vida, minhas percepções e a minha mente.
Sofri resistência de mim mesma, precisei ouvir muitos puxões de orelha para perceber que eu poderia ser o que eu quisesse. No começo, correr e andar era a combinação perfeita. Aos poucos, fui pegando o jeito e consegui correr por 5’ seguidos.
Daí em diante, nunca mais parei: somei quilômetros ao meu currículo, pulei dos 5K para os 10K e em poucos meses perdi muitos dos quilos e medos que habitavam em mim.
Tornei-me corredora de modo lento, saboreando cada conquista e cada transformação que esse esporte me proporcionava. Nestes quatro anos de corrida somo mais de 20 provas no currículo, várias meias maratonas e também uma maratona. De longe, a minha conquista mais marcante.
Poucos acreditavam que eu, antes dos 25 anos, iria conquistar uma prova tão almejada entre os corredores. Eu mesma duvidei de que fosse capaz, mas ao invés de apenas só sentir dúvidas, eu treinei como nunca, me entreguei como nunca e fiz das dores minhas melhores amigas.
O resultado? Primeira maratona aos 21 anos, no tempo de 4:10′ e quarta colocação na minha faixa etária. Muito bom para uma estreia, não é?
Descobri que sinto realmente prazer em correr longas distâncias. Por esse motivo, decidi que a cada ano vou fazer uma maratona, até chegar o dia de realizar uma ultra. Este ano a “escolhida” é a mesma prova da minha estreia nos 42K: a Maratona do Rio de Janeiro, em 27 de julho!
Por aqui, convido os amigos do JQC a saberem mais da minha rotina de treinamentos até o dia da vitória.
Vem comigo?
Boa sorte e parabéns Kauana. Com certeza seu caminho será longo e feliz nas corridas. Eu, ao contrário, comecei a correr tarde (há 7 anos) e fiz minha primeira maratona aos 53 anos, no deserto do Atacama, no ano passado…. Depois disso, não tive mais como parar, claro….rs. Fiz a maratona de Bombinhas e a ultra do XTerra em Tiradentes também em 2013. Este ano já fiz a maratona do Ushuaia, vou fazer o Costão do Santinho em agosto e também me preparo para fazer a ultramaratona do Aconcágua em novembro, onde vou correr chegando até a cerca de 4 mil metros de altitude. E ano que vem quero começar encarando o El Cruce. Aliar natureza e corrida é tudo que um jornalista poderia querer para relaxar e eu me encontrei neste tipo de provas. Boas corridas para você e felicidade no esporte que você escolheu. Com certeza, está na pisada certa. Grande abraço, Ike