Correndo ao lado, não contra

Paulo Vieira

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Felipe Zylbersztajn, que já foi devidamente apresentado a vocês aqui e aqui, foi o jornalista que corre especialmente convidado do JQC para participar da Star Wars Run, que aconteceu no primeiro minuto deste domingão em São Paulo.

Zylber não decorou os ensinamentos do mestre Yoda, mas entrou no clima: curtiu participar da prova por não correr contra ninguém, mas sim junto com um monte de gente.

Bem, estou me adiantando. A bola tá com o Zylber.

Não conseguimos enxergar seu sabre de luz, Zylber!
Não conseguimos enxergar seu sabre de luz, Zylber!

Esse domingo eu participei da segunda prova da minha vida: uma corrida de rua com fãs de “Guerra Nas Estrelas”. Foi bacana porque ela teve uma natureza completamente diferente da primeira corrida da qual participei, muito mais tradicional. De forma resumida, as provas foram mais ou menos desse jeito:

Circuito das Estações
Distância: 5k
Largada: 7h30 (manhã)
Participantes: atletas amadores, mais em forma que eu, preocupados com seus tempos pessoais.
Trajes: shorts, camisa e frequencímetro.
Antes da prova: alongamentos complicados, garrafa d’água e discurso de incentivo ao estilo de academia de ginástica.

Star Wars Run
Distância: 6k
Largada: 00:01 (madrugada)
Participantes: sujeitos mais barrigudos que eu, com óculos de grau maior que o meu, sem muitas preocupações com o tempo de prova.
Trajes: máscara de stormtroopers, fantasias estranhas que limitam os movimentos e sabre de luz.
Antes da prova: selfies com os amigos, lata de cerveja (4 reais com os vendedores de rua) e vídeo de incentivo com um alienígena baixinho chamado Yoda.

Falando assim, alguém pode até pensar que disputar corrida com fãs de “Guerra Nas Estrelas” não é lá o maior desafio esportivo da galáxia. E esse alguém estará certo. Eu deixei a maioria dos fãs para trás – e olhe que venho de décadas de sedentarismo e cigarros. Mas é claro que as coisas não são tão definitivas assim. Havia um bocado de gente que mal conseguia andar ao final do Circuito das Estações, e também alguns sujeitos muito bem preparados na Star Wars Run. O pace médio do vencedor foi de 3:07 – duas vezes mais rápido do que eu.

Mas, no fundo, não corri CONTRA ninguém, mas AO LADO de todos. Poderia ser uma corrida com fãs de Raul Seixas (barbas postiças, coletes de couro e violão) que não faria tanta diferença assim. Estou ali testando meus limites individuais. O que me deixou pensando…

Mas e esses caras vestidos de Jedi!? Estão correndo por quê?

A FORÇA
Olha, eu nunca fui fã de Guerra Nas Estrelas. É. Desde pequeno. Eu sei. Desculpa. Então tenho certa dificuldade em entender alguns conceitos básicos da história, como A FORÇA. Sim, pois se antes das corridas tradicionais a gente termina uma conversa com “Boa prova”, na Star Wars Run o correto é dizer “Que a Força esteja com você”.

Inclusive o fato de a largada ser no primeiro minuto do dia 4 de maio se dá pelo trocadilho “May the 4th be with you”, que só funciona em inglês.

Talvez fosse isso. Os caras foram lá por causa dessa tal Força. Dei uma pesquisada e achei a seguinte definição na Wikipedia: “A Força é um poder vinculativo, metafísico, e onipresente (…) um campo de energia criado por todas as coisas vivas: ela nos cerca, nos penetra; ela mantém a galáxia coesa; Ela provém de tudo; Ela é tudo.” Hmmm, ok.

Chequei para me certificar de que não estava lendo um verbete criado por fãs do Raul Seixas e continuei me perguntando: por que raios aqueles caras estavam ali, numa prova de corrida, fantasiados, empunhando seus sabres de luz, sem nenhuma chance de fazer um tempo razoável?

Além da oportunidade única de poder paquerar meninas com as pernocas de fora e cabelos a la Princesa Lea, a melhor resposta que encontrei foi: porque correr é legal pra caramba e resultado não é tudo.

Ficou claro que a Star Wars Run está mais para um evento de marketing (promovido pela Disney) do que para um evento esportivo. A uma semana da prova você podia entrar no site e descobrir que haveria DJs, concurso de fantasias e sorteio de viagem para o Star Wars Weekend, em Orlando. Mas não havia um mapa do percurso disponível para consulta.

Por outro lado, a falta de pressão dessas corridas temáticas deve ser uma ótima porta de entrada para a corrida para um monte de gente. Ao meu lado na fila para pegar as medalhas um rapaz com um quimono esquisito estufou o peito e disse para a namorada: “Minha meta agora é correr a São Silvestre no ano que vem”. Ganhou um beijo de volta.

Pronto. Ta aí um bom motivo para se correr fantasiado.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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