A força esteja convosco

Paulo Vieira

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Darth faz aparição rápida na Ucrânia
Darth faz aparição rápida na Ucrânia

Eu lembro que o ator era Harrison Ford. De uma cena em um bar cujos frequentadores eram sujeitos peludos com cara dos macacos de Planeta dos Macacos. De uma perseguição bacana no final do filme. De um robozinho simpático.

E só. Era, acho, 1977, e o cinema, o Havaí, da rua Turiassu, em Perdizes, São Paulo. “Guerra nas Estrelas” talvez tenha sido o segundo ou terceiro filme a que fui assistir sozinho – o primeiro, quero crer, foi “King Kong”, o remake com a Jessica Lange.

Jessica Lange?

Enfim, não lembro de Jedi, mestre Yoda, Chubaka (aliás, onde anda você, Chubaka? Passa em casa, tem rabada), Princesa Léa, nem qual era exatamente o plot do filme.

Lembro do Darth Vader, mas não dele em ação em “Guerra nas Estrelas”. É que, tempos depois, quando eu trabalhava como produtor de comerciais de TV, incorporei, qual cavalo de candomblé, o vilão sombrio para um comercial de um achocolatado.

Ao final do comercial, o menino e a menina em cena disputavam a máscara do Darth Vader, que ficava estática, entre eles, no set. Miraculosamente, então, a coisa se levantava e dizia, com voz cavernosa (acho que dublada depois): “Calma, crianças, tem Nescau pra todo mundo.”

O sujeito por trás da coisa era je meminho, e o eletricista da filmagem, cujo nome infelizmente já não me lembro e que havia colocado umas lâmpadas piscantes na altura dos meus olhos, por dentro da máscara, estava mesmo certo: não fiquei cego.

Na vida real, a máscara do Vader era dada como brinde a quem achasse um vale-brinde dentro do produto. Se não me engano, enterravam o papel lá dentro.

Se os criadores dessa peça publicitária formidável de 1983 ou 1984 me leem, saibam que eu gostaria de rever minha “atuação”. Youtubem, sivuplê.

Com tudo isso, estar na corrida Star Wars, o 6K da virada de sábado, 3, para domingo, 4 de maio, em São Paulo, não é algo que eu deseje ardentemente.

O Zylber, que vocês conhecem destes inspirados textos, aqui e aqui, relatos de seu début nas provas de 5K em São Paulo, expert em “Guerra nas Estrelas” tal como eu, contudo, vai representar o JQC na ocasião. Já cacifou os quase R$ 140 da inscrição exigidos.

É evidente que corrida é o que menos interessa ali. O 4 de maio é a “data mundial” de “Guerra nas Estrelas”. A data, may 4th, em inglês, faz trocadilho com um bordão do filme: “May the force be with you”. A corrida começa 0h, tem DJ, aquelas coisas.

Corrida tem virado ação de marketing.

Por isso liguei para Andrea Salinas, diretora de marketing da Disney no Brasil, para perguntar, basicamente, por que uma corrida?

Ela disse:

“Há muita atividade física na saga ‘Star Wars’. Luta, corrida, batalhas. Podíamos fazer um evento de lutas de sabre, mas a corrida está hoje muito ligada à ideia de vida saudável, que é muito importante para a Disney.”

Andrea também revelou que a ideia da corrida apareceu em reuniões realizadas com grupos de fãs de “Guerra nas Estrelas” em São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Não soube dizer quantas pessoas participaram desses encontros. Os fãs brasileiros, contudo, são muitos. Um encontro recente no Rio de fãs da saga reuniu, segundo ela, 10 mil pessoas.

Disse também que cada país onde a Disney tem representação tem autonomia para escolher como celebrar o 4 de maio. Nos Estados Unidos, onde a Disney organiza diversas corridas – a mais famosa é a maratona de janeiro, nos parques de Orlando -, não acontece uma “Star Wars Race”.

Quem sabe por influência do lado negro da Força, Andrea em dado momento disse que a ligação estava ruim, e o “call” caiu. Novas tentativas minhas mostraram-se infrutíferas.

(O que me fez lembrar desta entrevista do Lou Reed à Sylvia Colombo, da Folha).

Fiquei sem saber se os corredores podem enfrentar os 6K paramentados como os personagens da saga, se podem usar os sabres de luz na corrida, se o local do circuito é um galpão fechado. No site do evento, isso não é revelado.

Mas, muito mais importante, não tive tempo de dizer à executiva que tenho uma longa e aprovadíssima experiência na interpretação do Darth Vader.

Se precisar, Andrea, tamos aí.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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