Todo mundo fala que a corrida é democrática: para começar, basta um par de tênis e um pouco de coragem. Mas muita gente que está acima do peso acaba ficando de fora por medo de se machucar ou por sentir que não faz parte de um universo muitas vezes associado a gente tão magra quanto um queniano.
Antes de contar essa história, que mostra que a corrida também é lugar de gordinhos, vai um aviso importante: antes de começar qualquer atividade física, consulte um médico. Independente do seu peso ou idade, procure um profissional para saber se está apto e quais cuidados deve tomar antes de calçar o tênis.
No caso da paulistana Flávia Aguilhar, a corrida foi sobretudo uma questão de saúde. Quando viu a balança chegar aos três dígitos, chegou ao seu limite. Com uma dieta radical aliada a exercícios, Flávia perdeu 32 quilos em apenas um ano. Abaixo, ela conta a importância das provas de rua nesse processo e explica porque a corrida é o esporte mais inclusivo que existe.
“Em 2007 participei da minha primeira prova por insistência da minha irmã, que é professora de educação física. Fui para caminhar, mas fui. Mesmo tomando chuva o percurso inteiro, experimentei aquela sensação meio indescritível de terminar uma corrida de rua e trocar boas energias com tanta gente desconhecida. Nunca mais parei. Eu corria pelo prazer da atividade, queria provar que era uma gorda saudável, que é possível fazer isso mesmo estando acima do peso. Já fiz 58 provas, só 15 delas foram depois de emagrecer. Fiz 10 K no Circuito das Estações pesando 95 quilos.
Participei de dezenas de provas mesmo com minhas limitações e o peso nunca me impediu de praticar nenhuma atividade física. Eu sentia o preconceito quando ia à academia, mas no universo da corrida não existe isso. Em uma prova tem de tudo: gente jovem, velha, gorda, malhada… Já fui a última a terminar a corrida e sempre tinha muita gente torcendo por mim. Ao contrário de outros esportes, as pessoas acham legal você ser gorda e estar ali tentando. Acho que é uma das atividades mais enriquecedoras e transformadoras que existe.
Eu me sentia bonita mesmo acima do peso, cheguei até a fazer um ensaio nu, mas quando cheguei aos 100 quilos foi o meu limite. Em 2012 tomei consciência de que o sucesso ou o fracasso nessa tentativa dependiam exclusivamente de mim e da minha dedicação. Fiz a dieta Dunkan, que é bastante radical, mas me ajudou a ver resultados rápidos. Além da corrida, passei a praticar muay thai e a fazer musculação para colocar o corpo no lugar. Sempre brinquei e falei abertamente sobre meu peso. Meu apelido virou “Dona Farta”, mesmo depois que eu emagreci meus amigos ainda me chamam assim e eu adoro.
Minha dica para quem está acima do peso é: vá a uma prova de rua. Não adianta ficar esperando emagrecer para começar a correr por medo se sentir dor no joelho. Não sou médica, mas acho que começando devagar, com caminhadas e em distâncias menores é possível. Vivencie isso, participe e veja o quanto a corrida acolhe todas essas diferenças. Você não está ali para competir com aquelas cinco mil pessoas, é você com você mesmo. A motivação que a gente sente nessas provas é uma coisa maravilhosa. Quando comecei, fazia os 5 K em 50 minutos, hoje estou treinando para fazer em 34. Me sinto o Usain Bolt.”