É preciso dar logo uns tiros

Paulo Vieira

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Em seu blog, o jornalista Bruno Paes Manso revelou esta semana quem é o advogado dos policiais no julgamento interrompido terça-feira no caso do Massacre dos 111. Chama-se Celso Vendramini, ele também ex-PM. Nas palavras de Bruno: “Vendramini é performático. Se apresenta dando seu cartão de visitas: ‘me ligue se um dia matar alguém’.”

Espero não precisar ligar para o Vendramini. Não consegui cumprir minha meta de atravessar esta encarnação sem fazer tratamento de canal, mas acredito que conseguirei zerar na categoria lesão corporal seguida de morte com arma de fogo ou outro material perfuro-cortante.

Tiro, rapaziada, só no sentido metafórico.

E antes de começar a “treinar” corrida, a metáfora tinha outro significado.

Mas tiro não é uma expressão que gente séria, como o treinador Nelson Evêncio, gosta de usar. Eu o entrevistei para saber se é necessário mesmo fazer o tal “treino intervalado” para conseguir evoluir em corrida. Por mim, se esses caras não me convencessem, eu estava até hoje rodando, rodando, rodando, rodando…

Jornalistas que Correm – Parece haver um consenso de que rodar, rodar, aumentar a rodagem mantendo o pace, não adianta nada para o sujeito, por exemplo, sair duma meia maratona e virar maratonista. Você comunga dessa ideia? Sempre foi assim?

Nelson Evêncio – É fato. No treinamento não só deve haver variação de volume (quantidade), quanto de intensidade (ritmo), variabilidade (utilização dos métodos de treinamentos) e também de densidade. Densidade está relacionada à concentração de cargas mais fortes. Isso é assim há muito tempo. Só rodar não é treinar corrida, é correr. Treinar corrida é ter uma programação e variar os tipos de treinamentos.

JQC – Como o tiro ajuda no aumento da resistência? Por que dizem que as pessoas ganham mais força nos últimos 10K da maratona treinando intensidade?

Evêncio – Tiro? Com arma? Só se for no biatlo dos Jogos de Inverno! O nome correto do método é treinamento intervalado. Tiro é uma gíria péssima! Na explicação mais simples, o treinamento intervalado aumenta a capacidade do organismo para suportar esforços mais intensos. Faz subir o batimento cardíaco acima do ritmo de competição, mas por um curto período. E é na compensação, com a pausa, que há o ganho aeróbio. Aumenta a capacidade de produzir e remover o lactato sanguíneo.

Correr mais forte nos últimos 10K da maratona depende também de muitos outros fatores, sobretudo de realizar o final dos treinos em ritmo mais forte, de dosar o ritmo no começo da prova e da nutrição.

JQC – O treinamento intervalado deve ser proposto para quem não gosta de treino de intensidade? É a única maneira de o sujeito melhorar sua resistência?

Evêncio – Se a pessoa não gosta de intensidade, ao invés de realizar o treinamento intervalado, pode realizar um treinamento contínuo (sem pausa), mas com ritmo variado. Exemplo: corre 500 metros fraco e outros 500 metros mais rápido até o final do treino.

JQC – A possibilidade de lesão durante o treino de intensidade é maior do que nos longões? Por quê?

Evêncio – Sim, aumenta o impacto com o solo, aumenta a velocidade de contração e descontração muscular e exige mais dos órgãos em geral. O que não quer dizer que correr por muito tempo não possa ocasionar lesão. Se o atleta for rápido e correr devagar por muito tempo, pode ter lesão por falta de eficiência mecânica. Uma Ferrari a 60km/hora!

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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