
Eu sabia que ia ser mais difícil do que completar uma, vai, ultramaratona. Desde o Brasil os contatos haviam sido infrutíferos. Entrevistar Haruki Murakami, o mais famoso escritor japonês, parecia ser algo que ninguém daqui nem mesmo tentava – supus haver uma regra não escrita de que o sujeito jamais se digna a falar com um jornalista brasileiro.
Bem, eu tentei. Depois de conversar com o pessoal da Alfaguara, sua editora no Brasil, troquei um e-mail com a agente inglesa que o representa. Em menos de meia hora fui dissuadido (“Você pode imaginar como o Sr. Murakami é ocupado”) do, por assim dizer, projeto. O e-mail nem chegou a Tóquio, onde devia ser 1 da manhã – disse isso para a inglesa em réplica menos amável.
Restava-me a abordagem de guerrilha. Uma vez em Tóquio, faça como o Muraka: corra onde o sujeito corre. Sim, pois, para quem não sabe, o autor de “Do que eu falo quando eu falo de corrida” é também o mais famoso maratonista japonês – e provavelmente o mais emérito pensador de corrida do mundo. Falei desse livro – e, estranhamente, também de “Erva do Diabo”, de Carlos Castañeda -, aqui, nos primórdios deste blog.
O diabo (sem erva) é que eu tinha algumas outras coisas para fazer. Precisava girar a cidade (e também Quioto e, decidiria depois, Hiroshima) em apenas oito dias para uma reportagem para a Viagem e Turismo (Editora Abril), minha patrocinadora à época. Achar o Murakami seria “plus a mais” para a revista. E uma dádiva para os amigos chegados da Runner’s Brasil.
Embarquei num domingo à noite num avião qualquer nota da United para chegar em Tóquio na noite de terça – 25 horas a bordo mais umas seis horas de conexão em Washington (acrescente o fuso). Curiosamente, o serviço a bordo do trecho Washington – Tóquio era bem melhor (muitos filmes e vinho gratuito) que a rota Norte-Sul. Que fique registrado.
Não foi fácil, portanto, encontrar disposição para uma corridinha na quarta-feira, meu primeiro dia completo no Japão. Até porque não consegui dormir – estava virado desde o Brasil e assim continuei. A bem da verdade, mal lembrei do Murakami nesse dia. Mal lembrei também de ficar de campana ao amanhecer no Parque Meiji, supostamente o lugar onde o maluco corre.
Se eu precisava de alguma desculpa – não precisava -, eu tinha uma boa. Na noite anterior, pouco mais de uma hora após ter chegado ao hotel funesto em que me hospedei, já saía com uma amiga japonesa, a Tomoko, para conhecer um izakaya, o “bar de tapas” japonês, mas que, no caso do escolhido, estava mais para boteco de esquina.
Foi uma experiência muito interessante, relatada aqui (tem até foto minha).
O melhor é que, a horas tantas, a proprietária pediu licença para fazer compras. “Se não o supermercado fecha”, disse. Ficamos eu, Tomoko e o Onishi, um pacifista que conhecemos ali, tomando conta do bar. E saquê também.
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