Gaúcho, gremista e apaixonado

Paulo Vieira

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Rodolfo Lucena na Cidade do Cabo
Rodolfo Lucena, gaúcho, gremista, cachorreiro e apaixonado

“Sou gaúcho, gremista e cachorreiro”. É assim, com essas três qualidades, que Rodolfo Lucena costuma se apresentar a quem o vê e ouve pela primeira vez. Foi assim numa palestra quarta passada no Sesc Pinheiros, onde eu também estava presente.

Rodolfo, ultramaratonista, dois livros de corrida lançados, colunista da Folha de S.Paulo e perfilado neste post de setembro no JQC, completou há alguns dias seu projeto de andar (e eventualmente correr) 460K por São Paulo para celebrar os 460 anos da fundação da capital.

O vídeo da TV Folha sobre o projeto está neste link e a coluna com os relatos dos 460K, neste.

Ser gaúcho, gremista e cachorreiro parece não diminuir o amor e a curiosidade que ele tem pela cidade. “São Paulo não é nem minha terra, mas virou minha pátria, como acontece com milhões de migrantes que aqui aportam vindos de todos os recantos do país. Sou gaúcho e gremista, mas vivo na Pauliceia há mais de 30 anos. Aqui plantei árvores, tive filhas, escrevi livros. Aqui fiz minha primeira corrida”, escreveu ele na Revista da Folha do último domingo.

Nas suas andanças por São Paulo, Rodolfo fez questão de ir aos “intestinos” da cidade, do Núcleo Curucutu, na Serra do Mar, o extremo sul da cidade, no limite de Itanhaém, a Guaianases, na ZL, aonde foi conhecer uma parede granítica de 600 milhões de anos – você leu direito – junto com a geóloga Stella de Souza. Na subida do Pico do Jaraguá, chamou atenção para a comunidade guarani, cerca de 700 pessoas que vivem ali sem saneamento básico.

Andar ou correr por São Paulo uma distância que coincida com uma efeméride não é difícil. O difícil, creio, é “agregar”. E isso Rodolfo fez muito bem, seja pela seleção de roteiros, seja pelas companhias muito interessantes que cabalou, seja pela, digamos, fortuna crítica de seus posts.

Da Praça da Sé, onde ele encerrou o projeto, ele fala – e dá os links necessários – sobre o Movimento Contra a Carestia, a campanha pela anistia e o comício das Diretas, tudo isso em apenas um parágrafo.

Além de gaúcho, gremista, cachorreiro e curioso, o barbudão parece ser um homem apaixonado – e não só por São Paulo. No Sesc Pinheiros usava uma calça branca com 17 marcas de batom: alusão ao 17 anos de seu casamento com a jornalista Eleonora de Lucena à época que ele teve a ideia da calça; várias de suas maratonas e ultras foram corridas com camisetas onde escrevia o nome da mulher, das filhas, dos cachorros e de algumas músicas que lhe falam à alma.

No Sesc, instigado por uma pergunta deste escriba, que vê nas suas corridas uma clara plataforma para conhecer o mundo (e em menor medida uma plataforma de autoconhecimento), ele foi generoso com todos os corredores, mesmo aqueles que treinam no mesmo lugar de sempre pensando obsessivamente naquilo: performance.

Para Lucena, até mesmo esses corredores entram de alguma forma em contato íntimo consigo mesmos. Além de queimar calorias, o sujeito meditaria intensamente. Genial.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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