Rodolfo em sua primeira ultramaratona, a Two Oceans, na Cidade do Cabo, África do Sul/Foto: Arquivo Pessoal
Não tivesse escrito dois livros, que aliás autografa hoje à noite no Memorial da América Latina, dentro do Salão do Jornalista Escritor, o portoalegrense Rodolfo Lucena seria um personagem em busca de um autor.
Um autor pouco preocupado com verossimilhança, já que não seria tão verossímil assim um personagem que faz sua primeira maratona apenas um ano depois de começar a correr e, quando vai para seus muitos 42K internacionais, usa uma camiseta com os nomes da mulher, das filhas, dos cachorros e das músicas de eleição, nas chegadas sempre grita “Brasil” e faz aviãozinho.
Mais do que isso, o sujeito vai aumentando sua quilometragem até se tornar ultra – chegou a fazer um 100k em 15:54′ – e, no interim desce ao inferno das contusões (fratura por estresse, hérnia, você nomeia) e das recuperações.
O personagem existe, está vivo e chutando.
“Maratonando” (Record), de 2006, é seu primeiro livro, onde ele faz relatos minuciosos de suas primeiras maratonas, da primeirona, em Porto Alegre, a uma seleção planetária que passa pela Muralha da China, pela Two Oceans, na Cidade do Cabo, seu primeiro 56K, à desistência numa maratona por trilhas perdidas na Austrália.
Seu segundo livro, “+ Corrida” (Publifolha), traz outros relatos, aqui misturados a dicas práticas – há até mesmo uma que ensina a bem amarrar o tênis -, uma seleção de seu blog ancorado na Folha.com.
Ex-editor de Informática da Folha de S.Paulo, ele publica regularmente no jornal. Rodolfo falou ontem com o JCQ após um treino matinal de 13K.
O COMEÇO
Em um ano de corrida já estava fazendo maratona. Eis algo que eu não recomendo a ninguém, a não ser que a pessoa tenha uma experiência esportiva consistente. É preciso acostumar o corpo aos impactos da corrida. Comecei a correr na praia, mas logo passei a fazer provas, que é uma experiência muito boa. Ao terminar, você logo se sente um campeão.
OS DESAFIOS
Falam que existe uma depressão pós-maratona, um tipo de banzo. A gente fica se perguntndo “E agora?”. Isso dura dois minutos, ou duas horas, porque logo surge outro desafio. Como, por exemplo, correr uma 5K num tempo melhor. Cada corrida traz um desafio diferente.
AS CONTUSÕES
Tive fratura por estresse, três hérnias, fascite, tendinite a dar com pau. Às vezes é preciso parar e voltar aos poucos. Já houve semanas em que só podia correr 5′, três vezes por semana. Na semana seguinte, 10′. Eu já corri 100K, me considero ultramaratonista, mas agora preciso melhorar meu tempo de maratona, que anda pra cima de 5 horas, para não sofrer tanto nas ultras.
NA CABEÇA
As provas e, mais do que elas, os treinos longos, são momentos privilegiados para pensar. Escrevo cartas inteiras, títulos e leads de matéria, que saem prontos. E alguns projetos podem ser esboçados.
COMPETITIVIDADE
Numa prova você não está apenas competindo contra o seu tempo, o seu histórico, mas também contra os demais corredores. São adversários. Sem espírito beligerante, claro, mas quando você coloca objetivos como alcançar aquela pessoa que te passou antes, e a alcança, isso pode lhe auxiliar a ir fazendo uma boa corrida.
NOVOS OBJETIVOS
Agora a ideia é correr por um bom período sem sofrer com dores. Pensei em correr uma maratona por estes meses, mas deve ficar para 2014. Vou fazer umas meias, que encaro como treino, como a de Punta del Este, no próximo dia 22. Hoje (ontem) treinei 13k pelas ruas de São Paulo, intercalando caminhadas.
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