Treino, planilha, prova, marcas. Quem corre nas grandes cidades em geral tem objetivos, metas, “golos” na cabeça. Dificilmente você vai ouvir alguém dizer que corre apenas pelo prazer de correr. Ou eventualmente pelo prazer de descobrir novos lugares. Ou como forma de transporte.
Mas se nem mesmo de bicicleta as pessoas vão ao trabalho, que dizer de ir correndo? Sem um chuveiro e uma muda de roupa, com esse calor, fica mesmo difícil.
Mas é justamente de mobilidade urbana que apetece falar hoje. As discussões constantes em torno disso em nenhum momento envolveram o corredor, esse excluído. Corrida é apenas esporte, ferramenta de qualidade de vida, maneira de socializar com os colegas da assessoria? Ou pode ser também vetor de transporte?
Eu gosto de pensar que sim, que correr pode ser uma maneira eficaz de deslocamento. Claro, você terá certas dificuldades de buscar seus filhos pequenos na escola ou fazer a compra do mês no supermercado, mas por que não ir trabalhar correndo, se tudo o que você precisa é uma carteira ou um crachá, às vezes nem isso?
O corredor tem em relação ao caminhante a vantagem da autonomia. A caminhada às vezes tem de ser descartada pelo tempo que ela demanda. Já o corredor tem em si próprio uma opção razoável à bicicleta.
Pensei sobre o tema esses dias no Rio. Sábado passado saí da Praça XV por trás daqueles prédios públicos em direção ao Aterro. Fernanda, minha mulher, me acompanhou numa das bicicletas do Bike Rio, o sistema patrocinado pelo Itaú já comum em algumas cidades do Brasil. Logo cruzávamos sob o prédio brutalista do MAM e ganhávamos a ciclovia do Aterro, que leva toda vida para a Zona Sul, sem interrupções.
O sol já estava inclemente às 9 da manhã, mas perseveramos em nosso caminho para Copacabana. Houve um belíssimo desvio na Urca, pois eu ia à frente e nos desencontramos. Primeiro fui até a Praia Vermelha, que me pareceu linda e idílica, depois regressei até o acesso à Urca. O amável Bar Urca foi o ponto culminante – bar que fez nossa cabeça na véspera -, e reencontrei a Fernanda já na saída da Urca.
Cruzamos então o Túnel do Pasmado e meu ritmo só fez aumentar, como que influenciado pelos carros que passavam também no pau. Os 3,5K em Copacabana até o Forte foram em ritmo “New Balance”, a uns 4’50”, imagino, por quilômetro.
Se eu vivesse no Rio, é provável que tivesse uma bicicleta (como tenho e uso em São Paulo). Mas saber que daria para ir da Zona Sul ao Centro ou vice-versa na pegada, com aquela visão da Baía de Guanabara e do Pão Açúcar o tempo todo no radar – visão que maldisse neste post sobre a meia do Rio, ironicamente -, faz toda a diferença.
Fernanda chegou de bike uns bons minutos depois. Após o “treino” de duas horas, a lamentar apenas que a água de coco de uma barraca de Ipanema, 4 pratas, não estivesse gelada.
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