Quem nunca descontou a ansiedade em um bolo de chocolate? Ou assaltou a geladeira depois de um dia difícil? Pois é, a nossa relação com a comida nem sempre é das mais saudáveis e isso tem tudo a ver com as emoções. Para refletir um pouquinho sobre isso, conversei com a psicóloga e especialista em Transtornos Alimentares, Luciana Kotaka, que também é autora dos livros Comportamento Magro e Estômago Magro Versus Pensamento Gordo.
JQC – Como a psicologia pode ajudar na perda de peso?
Luciana: A psicologia ajuda as pessoas com sobrepeso e obesidade a reconhecer os gatilhos emocionais que disparam o desejo de comer e os porquês desses comportamentos. A tristeza, depressão, solidão, angústia, ansiedade, estresse, solidão, problemas em geral são fortes disparadores do desejo de comer. A comida, nesses casos, vem como uma forma rápida de amortizar sentimentos, sensações ruins e/ou até boas, já que algumas pessoas sentem uma ansiedade em comer em momentos de alegria, como uma forma de concretizar lembranças felizes, como da família reunida.
JQC – Você acha que é possível emagrecer só se exercitando, sem melhorar a alimentação ou vice-versa?
Luciana: Acredito que se a prática de exercícios for realizada em alta intensidade e frequência é possível perder peso sim, porém, se não houver um acompanhamento nutricional, perde-se também aos benefícios que uma alimentação adequada traz a nossa saúde. Agora, se mudarmos nossa alimentação sem sair do sedentarismo, podemos perder peso, mas vai chegar um momento em que este vai estabilizar, pois o corpo precisa de exercícios para continuar a queima de gordura corporal.
JQC – Quais são os principais vilões na busca por uma vida mais saudável?
Luciana: A preguiça, o sedentarismo, o comodismo, a falta de organização e disciplina, pois quando vencemos essas situações, conseguimos nos empenhar em busca do nosso desejo. Não basta querer mudar, é preciso desejar de verdade.
JQC – Como não descontar as oscilações emocionais na comida?
Luciana: Quando desenvolvemos uma auto-percepção de nossos sentimentos, nossa relação com a comida fica muito mais fácil, somente com isso podemos realizar mudanças de comportamento de forma efetiva. É necessário buscar estratégias para não comer ou não cometer abusos, como fazer um simples diário alimentar, usar o celular para avisar os momentos que devemos comer, organizar os lanches intermediários, fazer compras que durem a semana toda e também praticar o auto-controle.
JQC – Qual é o papel do esporte/atividade física na mudança de atitude quanto à alimentação?
Luciana: O esporte libera endorfina, que melhora o bem estar, tanto físico quanto emocional. Quando as pessoas começam a se sentir bem com o o novo peso e com os benefícios da atividade física, automaticamente diminuem as quantidades de comida ingeridas e melhoram a qualidade do que consomem. Afinal, elas não querem perder os benefícios que o esporte tem proporcionado, além do esforço que investiram.
JQC – A corrida traz benefícios psicológicos aos seus adeptos?
Luciana: Na corrida se perde muito peso em função do ritmo intenso da atividade, porém, é preciso contar com o acompanhamento de um profissional, para evitar traumas e lesões desnecessários. Além de resultar em um corpo mais definido, a corrida melhora o humor e o sono e fortalece o sistema cardiorrespiratório, os músculos, o raciocínio e a memória. Como em toda atividade física, a influencia da corrida no humor e na auto-estima é bem visível e, a partir do momento que uma pessoa começa a perceber essas mudanças, passa a ver o mundo a sua volta de outra forma, mais positiva. Ouço muitos relatos de pacientes sobre isso, é como se descobrissem uma nova forma de se relacionar com o mundo. No caso de pessoas que optam por correr em equipe, há o benefício social também, já que elas aumentam o circulo de amizades ao participarem de provas e comemorações em grupo, isso fortalece muito suas relações interpessoais e auto-estima.
JQC – Quais são as suas 3 dicas para quem quer ter uma vida saudável?
Luciana: 1) Focar em comer para ter saúde, pois se você se limitar a pensar em conseguir um corpo magro e tiver uma grande dificuldade em perder peso, logo se sentirá desestimulado.
2) Comer para sua fome e não para o seu desejo de comer. Fome é uma sensação ruim que sentimos e qualquer comida resolve, o desejo de comer normalmente é direcionado a um prato ou guloseima específico.
3) Parar e pensar se vale a pena comer determinado alimento e colocar a perder todo investimento que se faz para manter a saúde e o peso saudável, consciência e responsabilização são os primeiros passos.
