Trabalhar com o que se gosta é bom, mas poder conciliar o trabalho, a família e até o namorado com um hobby é ainda melhor. A editora do portal O2porminuto, Anna Paula Lima, é uma dessas pessoas privilegiadas. Nesta entrevista, ela conta sobre sua história de amor – e conquistas – com a corrida.
JQC – Quando e por que começou a correr?
Anna Paula Lima – Sempre fiz algum tipo de atividade física. De vôlei e academia à canoagem, a corrida entrava como um suporte ao condicionamento físico. A brincadeira pegou pra valer em 2002, depois que meu filho nasceu. Colocava o moleque no bebê-conforto e deixava-o de frente pra mim, enquanto corria na esteira. Tive que suar a camisa para perder os quilos extras que ganhei na gravidez e com a amamentação, que me fazia consumir “aditivos”, como produtos à base de milho, acreditando que assim teria mais leite (um dos muitos mitos dessa fase). Resultado: comia muito, muito além do que realmente precisava. Mas retomei os exercícios com corridas na esteira, sem estresse, e aos poucos recuperei a forma. Há cinco anos, vi um vídeo sobre a Volta à Ilha (Floripa) e fiquei fissurada. Mas participar como? É uma corrida de revezamento, e eu corria “solita” na esteira. Então entrei para o grupo de atletismo da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil), com a intenção de participar dessa prova. No ano seguinte, em 2009, corri a minha primeira Volta à Ilha e, neste ano, engatei meu relacionamento com outro corredor da equipe, que me incentivava a correr cada vez mais. Foi um aditivo e tanto. Estamos juntos, na vida e nas provas de rua, sempre.
JQC – Seu filho não fica enciumado com a corrida/namoro?
Anna – Sempre levava meu filho ao clube para me acompanhar nos treinos. O campo de futebol fica ao lado da pista de atletismo. Um olho na pista e no treino, outro no menino. Acabava o treino, e o moleque estava na arquibancada trocando ideias com o pessoal da equipe. Com o tempo virou uma espécie de mascote. Hoje, corre provas infantis. No começo me perguntava: “Mãe, em que lugar você chegou?”. “Na frente de X mil atletas”, eu respondia. Ele achava graça. Até que em provas do clube, que são bem menores que as disputadas nas ruas, fui levando uns troféus. Sempre dedicados a ele (claro!). Meu filho já até participou de corrida da O2 e, de quebra, fez reportagem pra gente...
JQC – Como você concilia maternidade, corrida e trabalho como editora do portal O2?
Anna – Da forma mais natural possível. São pilares muito importantes para mim. Logo, sempre há espaço para os três – e mais o namorado -, na agenda. Meu dia é uma correria. O esporte que abracei e que adoro, como hobby e como trabalho.
Uma colega de redação que acompanhava minhas empreitadas nas corridas me indicou o trampo na O2. Juntei duas coisas que sempre gostei: o trabalho com conteúdo para web, já se vão 15 anos no online, e a paixão pela corrida. Falar sobre o tema, participar das provas da O2, das corridas de revezamento e tudo o que envolve esse mundo é um troço que é fácil, fácil… As ideias saltam na minha frente o tempo todo porque respiro isso, amo tudo isso. Ficou muito fácil, quase natural encaixar tudo na rotina: trabalho, filho, corrida, namorado-corredor, provas… Meu exemplo contamina as pessoas da equipe, amigos, trago personagens para o site, para a revista. Tenho acesso fácil a treinadores e, hoje, além de ser atleta do clube, corro com uma assessoria esportiva na USP, a Run&Fun, durante a semana, depois do trabalho. Sinérgico! A corrida só traz coisa boa pra mim.
JQC – Quais foram as corridas de rua mais marcantes?
Anna – A Volta à Ilha, em Florianópolis, tem aquele gosto de desafio diferente somado à experiência (quase de Big Brother) de conviver durante todo um dia numa prova pra lá de cansativa com outras pessoas do grupo. Temos de ficar de olho na navegação para chegar aos pontos de troca de atleta, dirigir o carro, discutir se aquele é o caminho certo, correr, incentivar quem está correndo… Um dia cheio, cansativo, mas sempre, inesquecível. Você sempre volta da Ilha cansado. Meu namorado cumpre os trechos dele e corre comigo um dos meus trechos pra incentivar… Durante a prova você se pergunta por que está ali. Mas, no final, planeja a próxima… Tem um sabor inesquecível.
A primeira São Silvestre a gente também não esquece! A minha foi em 2009. Primeira prova mais longa. Um arrepio louco ao subir a Brigadeiro sem sucumbir, nem andar, escutar os aplausos das pessoas que assistem à chegada, a música no fim na Paulista… Cheguei arrepiada e chorando. A sensação era a de ser uma mulher forte. Uma das poucas que estavam ali entre tantos homens (acho que éramos umas 3 mil para uns 27 mil inscritos). Sentia-me realizada pela corrida, por concluir bem o percurso, por estar entre aquelas mulheres e por fechar o ano da melhor maneira que já conheci.
JQC – Como é voltar a correr depois de uma lesão? Você muda a forma de se preparar para as provas?
Anna – As lesões sempre estiveram presentes na minha vida. Jogava vôlei e, aos 15 anos, já operei o joelho, depois de romper o cruzado anterior. Operei, fiz fisio e voltei a jogar. Depois, já corredora, rompi também o cruzado anterior do outro joelho. Físio nele, musculação… Voltei, claro. O médico diz que sou um “case”, porque corro com instabilidade, que tento conter com a musculação, nos dois joelhos. Paciência. Não quero operar novamente. Só se não tiver jeito… Recentemente, uma lesão no menisco me afastou das ruas. Estou de volta à fisio.
Anna – Varia de acordo com o objetivo. O último focava os 21k. Foram intervalados, longões, fartleks, musculação…Segui a risca e fiz um tempo de três anos atrás. Fiquei muito contente.
JQC – Quais foram os principais benefícios que você notou depois que começou a correr?
Anna – Minha vida circunda o mundo da corrida. Sou feliz por tudo o que faço, emagreci, trabalho no que gosto, meu namorado corre, meu filho arrisca umas passadas… O que mais você pode querer?
JQC – Qual é a matéria sobre corrida que você mais gostou de publicar?
Anna – Um vídeo com o passo a passo de um iniciante. Estagiária topou a empreitada, o repórter juntou tudo. Um trabalho a quatro mãos. Gostei muito. Não foi só o resultado. Foi o engajamento. Trabalhar com pessoas envolvidas com o tema é compensador. Tenho uma equipe envolvida e de corredores. Quem chega e não corre começa a correr. O bicho pega todo mundo.