Quer emagrecer? Faça como o Mandrey

Paulo Vieira

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Mandrey em ação com um voluntário/Foto: reprodução

Pelo Facebook do JQC fiquei conhecendo a incrível história do Marcus Andrey, jornalista pernambucano de 38 anos, coordenador de mídias da venerável Fundação Joaquim Nabuco. Marcus inventou o que chamou de “Dieta da Rede Social”. Aos 140 quilos, ele decidiu que precisava perder 40 quilos, e para isso passaria a caminhar todos os dias.

Mas para fazê-lo, queria companhia.

Amigos, conhecidos ou desconhecidos, no problem, bastava se acertar com ele pelo facebook. Com nove meses da “dieta”, ele já se livrou de 31 quilos. Bom de estratégia e perseverança, ele também é bom com as palavras, como você vê abaixo.

“Sou gordo desde os 9 anos e em 2012 atingi uma marca que me fez parar para uma profunda reflexão: 140 quilos (a pesagem de 139,8 kg foi de bermuda e camiseta, mas com calça jeans eu já ultrapassava fácil os 140 – a calça era tamanho 62).

Tracei a meta de 40 quilos mais como uma meta simbólica e quase inatingível sem ajuda da ciência (leia-se cirurgia bariátrica), mas desde o começo eu sabia que não ficaria “magro” pesando 99 quilos. Não tive apoio médico, embora tenha passado por uma cirurgia simples de retirada da vesícula biliar, que me forçou a fazer dezenas de exames pré-operatórios. Nesses exames eu constatei que minha saúde era muito boa, apesar da obesidade mórbida. Mas eu já estava sentindo alguns sinais, como “dormência nos pés”, dificuldade para amarrar os sapatos, insônia, ronco etc.

Fui engordando por excesso de estímulos ao consumo. A oferta é enorme, por isso quem já tem tendência a ganhar peso, ganha mesmo. Eu segui esse caminho, comendo muito, canalizando minhas frustrações para a válvula de escape mais saborosa. Um dia resolvi dar um basta. Ah, um ponto muito importante na minha mudança de atitude foi a morte da minha irmã caçula, vítima de um câncer. Embora não tivesse nada a ver com estômago, comecei a acreditar que a comida errada é uma das portas de entrada dessa doença maldita. E assim, parei para pensar.

Minha vida sempre foi permeada por dietas. Li “Só é Gordo quem Quer” e outras publicações do gênero, e nas vezes que fiz dieta os resultados apareciam muito bem no início, mas eu nunca consegui levar adiante. Eu tinha “iniciativa”, mas não “terminativa”.

Então vi que o problema não estava na dieta, mas na falta de atividade física. Ou melhor, na perseverança com a atividade física, pois já havia praticado remo (por seis meses, aos 18 anos) e frequentado academia várias vezes, mas em todas eu parava quando ficava monótono.

E assim, num belo dia de novembro de 2012, publiquei no meu perfil do Facebook que tinha acabado de inventar a Dieta da Rede Social e expliquei em uma frase a “fórmula mágica”: ‘Todo dia alguém vai ter que caminhar comigo, senão eu desisto’.

Várias pessoas curtiram e apoiaram, e a primeira caminhada foi marcada para o dia seguinte, 6 de novembro. O projeto começou aí, sem qualquer planejamento prévio (nem acompanhamento especializado) e desde então nunca mais parei. Todo santo dia eu caminho, mesmo sob adversidades.

Optei por não repetir voluntários porque isso enriquece mais o projeto e o post que sempre escrevo depois das caminhadas, mas por uma série de fatores (intempéries, compromissos de última hora ou farrapada mesmo) experimentei o dissabor das faltas dos voluntários. No começo, driblei com bom humor, mas então aceitei receber voluntários repetentes – é melhor um repetente do que ninguém. Mesmo assim, o percentual de faltosos é insignificante, e não corresponde a 10% do total de voluntários que compareceram. Tive também conflitos de agenda, e acabei caminhando duas vezes por dia (com dois voluntários) algumas vezes. Ou seja, acho que terei perto de 365 voluntários ao final do projeto.

Em viagens a trabalho e nas festas, mantive meu projeto com a ajuda de familiares e amigos.

Todos os parceiros foram bacanas. O que eu acho muito massa nesse projeto é que as pessoas já chegam demonstrando entusiasmo com a idéia, vêm de coração aberto e sempre trazem dicas de alimentação e hábitos saudáveis. Nunca tive problema com nenhum voluntário – pelo contrário, depois da caminhada a gente de estranho, passa a ser amigo. Aliás, agora lembrei de uma voluntária “invisível”. Ela é do Exército e estava fazendo treinamento de corrida com outros militares num dos parques que costumo frequentar. Em dado momento ela cansou de correr e fez um desabafo em voz alta para os superiores, dizendo que a partir dali iria terminar as voltas caminhando. Então puxei conversa, falei do meu projeto, ela adorou a ideia, deu alguns conselhos de alimentação e no final se recusou a sair na foto fardada. kkkkkkkk.

Receber um desconhecido para caminhar é sempre uma experiência enriquecedora. Graças a esse projeto conheci gente que nem em 1 milhão de anos eu conheceria. O primeiro deles foi um coroa, morador de um bairro humilde e distante, que tomou um ônibus às 5h para me encontrar no Parque às 6h. Conversamos sobre as agruras de ter sobrepeso, trocamos experiências e até umas receitas de cuscuz. kkkkkkkkkkkkk. Todos os voluntários desconhecidos trazem algo de relevante para este projeto. Na caminhada rola uma conexão permanente. A gente escuta e presta atenção em tudo. Isso é massa, porque um assunto puxa outro e em uma hora de caminhada a gente já sai dali amigo.

E com os conhecidos aproveito para botar a conversa em dia, já que a vida acaba nos afastando. Há muito tempo não frequento bares, por isso rever alguns amigos por causa da Dieta da Rede Social é como uma farra, com a diferença de ter a atenção plena do interlocutor. E no bar a gente está sujeito a vários fatores dispersivos.

Ao atingir um ano, eu encerro o primeiro ciclo do projeto. As caminhadas continuarão ad infinitum e já estou escrevendo o livro “A Dieta da Rede Social”, contando a minha experiência e ensinando como fazer. Essa é a dieta do gordo liso: sem nutricionista, sem personal, sem endócrino e sem academia. Claro que se alguém puder contar com um profissional os resultados serão melhores. Entrei na academia em 2 de agosto. Ao emagrecer 30,6 kg, percebi que precisava fortalecer os grupos musculares superiores. E assim, estou seguindo com dois exercícios físicos por dia: caminhada e malhação.

Não penso em correr porque meu projeto não tem pausa. Todo santo dia eu preciso caminhar, e sei que a corrida nos expõe a lesões. Quem corre num dia, descansa no outro. Eu não posso descansar. Acredito que cheguei onde cheguei, praticamente sem restrição alimentar, porque nunca parei de me exercitar diariamente.”

As histórias do Mandrey estão no dietadaredesocial.com.br

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

3 Comentários

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    Helena Amaral

    Sou super fã desse jornalista que anda, faz amigos e mostra que , na vida, as coisas podem acontecer quando se tem muita determinação…

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    Gilberto Melo

    Eu, particularmente, achei essa ideia massa… é uma motivação, um isentivo aos mais novos, e até aquele que querem perder alguns quilinhos e não tem coragem, como também, mostrando que podemos perder quilos sem ter uma nutricionista, uma condição financeira elevada, mais com nosso desempenho e força de vontade. Li essa matéria, e fiquei muito enriquecedor com suas palavras e com seu bom exemplo… eu só tenha à dizer uma coisa:”AVANTE GUERREIRO”… e Parabéns, DEUS continue te abençoando, ‘INTELECTUALMENTE e FINANCEIRAMENTE’… boa sorte!!!

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