DOMINGO TEM FESTA NA MOOCA. O famosíssimo bairro paulistano, 460 anos em 2016, apenas dois a menos que Piratininga, vê acontecer a 11 Corrida e Caminhada Juventus.
São provas de 5K e 10K para os corredores, com largada e chegada dentro do clube, ao lado das piscinas. Para quem não é iniciado, o clube não fica junto ao famoso estádio do time, o Conde Rodolfo Crespi, mais conhecido como Rua Javari.
Abro espaço para um mooquense, corredor (de handybike) nas horas vagas, sujeito imerso na Mooca até os epidídimos, o jornalista e moleque travesso Bruno Favoretto.
ELE NÃO VAI DEIXAR EU USAR A PALAVRA SUPERAÇÃO
CORRENDO NA MOOCA
ALGO NÃO ACONTECEU NO MEU CORAÇÃO, FELIZMENTE, NA IPIRANGA COM A SÃO JOÃO
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O MOOQUENSE NATO TEM MAIS do que apego ao território onde nasceu e/ou vive. O que rola é a contínua manutenção de uma identidade. Ele(a) não só faz questão de ter a Mooca como sua pátria, mas se orgulha do brasão, do hino, dos 460 anos recém-completados. O indivíduo, adevogado ou não, defende o bairro, leva-o consigo aonde for.
Exemplos são a propaganda gratuita para o chope do Elídio, as odes aos Demônios da Garoa, o dialeto particular – o plural da língua italiana usa o ‘i’, não o ‘s’, então os imigrantes tinham dificuldade em pronunciar essa letra no final das palavras.
Nada, porém, ilustra tanto esse ufanismo como o Juventus, cujo distintivo com o jota gótico está invariavelmente grudado na lataria dos carros.
Dá pra sentir essa energia na corrida organizada pelo clube neste domingo. E, pra quem não conhece, conto sete curiosidades sobre o clube.
Fruto do Conde Crespi
Os times de várzea formados por funcionários do Cotonifício Crespi, de propriedade do Conde Rodolfo Crespi, que dá nome ao estádio, estavam bombando tanto que o italiano fundou o Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube em 1924. Após faturar o Paulista da segunda divisão em 1929, Rodolfo, conhecido como Cavaliere del Lavoro, viajou à Turim e pirou em uma partida da Juventus. Na volta, no dia 2 de janeiro de 1930, sugeriu a mudança de nome.
Chico Buarque no ataque
A ópera do malandro carioca quase tocou na Javari. Aos 15 anos, quando morava em São Paulo, ele tomou o ônibus no Pacaembu e desceu na Mooca para um teste a fim de virar atacante dos juvenis do Juventus. Mas, além de ter uma penca de meninos concorrentes, a comissão técnica do Moleque Travesso achou que Chico não tinha físico para ser jogador e deixou o poeta à espera. Ele foi embora sem tocar na bola e não voltou para um segundo teste, que rolaria no dia seguinte.
Origine cannoli
Dentro do estádio, a arquitetura não é a única intersecção com a Sicília. Tente o cannoli (que significa “pequenos tubos”, em italiano) do simpático seu Antônio. Tradizione desde 1978, a versão mooquense do canudinho folhado tem uma diferença em relação à do sul da Itália. Em vez de ricota, o recheio é de creme, igual ao do sonho de padaria. Vale levar alguns para viagem.
O gol mais bonito do Rei…
A capacidade do estádio da Javari é de 4 mil pessoas, mas na Mooca há muito mais gente que diz ter visto in loco o gol mais belo da carreira de Edson Arantes do Nascimento – na opinião do craque. No dia 2 de agosto de 1959, o Santos bateu o Moleque Travesso por 4 x 0, com três gols de Pelé. A obra-prima: ele recebeu cruzamento de Dorval, do lado direito do campo, driblou um marcador, deu o primeiro chapéu em Homero, o segundo em Clóvis e, na saída do Mão de Onça, aplicou o terceiro lençol e completou o lance com uma cabeçada. O feito rendeu um busto no estádio mooquense, inaugurado pelo Rei em 2006.
… que destruiu o nosso Pando
Sim, o Santos x Juventus de 1959 é o duelo em que Pelé fez seu gol mais bonito da carreira, mas o Rei não arrebentou a defesa juventina apenas com a bola nos pés. Antes de aplicar a sequência de chapéus, ele foi para uma disputa de bola com Pando e deixou a sola no lateral, que caiu e desmaiou. As regras da época impediram o time grená de substituir o atleta. Após ficar inativo por um ano e meio, voltou, mas nunca mais foi o mesmo. Pando, além de jogar, vendia títulos do clube para ajudar a construir a sede social grená. Parou em 1965 e foi trabalhar na Ford, onde se aposentou. Viveu na Mooca até 2012, era meu vizinho, mas partiu desta devido a um mal de alzheimer.
Placar? Só de madeira
Ao entrar no estádio, olhe para a bandeirinha de escanteio do lado esquerdo do campo, na ponta da Rua dos Trilhos. Lá você encontra um persistente placar. Comandado manualmente por funcionários do clube, ele é um dos ícones do estádio. Com o apoio do Grupo Pão de Açúcar, em 2008, ele foi substituído por um placar eletrônico, mas o ódio eterno ao futebol moderno por parte dos torcedores trouxe, após poucos meses, o placar de madeira de volta. Para atualizar o score, os funcionários sobem por uma estreita escada e ficam em uma espécie de laje, que pode ser também um lugar privilegiado para ver a partida.
O manto grená
Há várias lendas sobre a camisa. A mais palpável prega que o presidente Rodolfo Crespi tinha dois filhos, um torcedor da Juventus de Turim e outro do Torino, por isso o clube leva o nome do primeiro e tem a camisa igual à doToro. Fato é que, primeiramente, o uniforme era roxo. Quando Crespi decidiu chamar o time de Juventus, o uniforme seria mudado para preto e branco, como o da Juve, a Vecchia Signora da Itália. Mas, como as cores já eram usadas por Corinthians e Santos, o poderoso chefão optou por uma cor que ninguém usava, a grená, como a do Torino.