Como não correr uma maratona

Paulo Vieira

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Gesu Bambino, Antonio Catro, da Runners, após a Maratona de NY
Nova York se rende ao último maverick/crédito: Renata Chede/ Runner’s

A questão planilha/performance x curtição, prova x corrida é recorrente no JQC, mas não me incomoda voltar a ela. Afinal, se me fizessem a pergunta “Por que diabos você corre?”, responderia: “Porque é gostoso”.

Saúde, fôlego, bradicardia, disposição, perda de peso, performance são para mim razões secundárias. Mas para ser gostoso é preciso não tornar o troço repetitivo, obsessivo, chato.

Por isso não sigo direito planilhas, não tenho “objetivos” definidos e não gosto de treino intervalado. Mas admito que nada impede que quem segue planilha, tem objetivos definidos e adora dar tiros seja louco, igualmente, por correr.

Mas acho que não sou o único “maverick” nesse negócio. AC Castro, vulgo Gesu Bambino, também conhecido como Toni ou Tonhão, editor de arte da revista Runner’s Brasil, companheiro de tantas corridas pela USP e pelas ruas do Alto de Pinheiros, já apresentado aqui aos leitores deste pasquim eletrônico, pensa mais ou menos como este emérito torcedor da Associação Portuguesa de Desportos.

Quando um fraqueja e ensaia olhar para o cronômetro, como aconteceu comigo nos 25K na última Maratona de São Paulo, que corremos juntos, o outro já desdenha do parceiro e coloca as coisas no eixo.

Pois bem, Gesu é tema de seis páginas da Runner’s de novembro – ou dezembro, não sei bem –, a que está nas bancas. Ele correu sua primeira maratona, a de Nova York, no começo do mês, e fez um tempo assombroso para a estreia, 3h34’32”, virando praticamente sem variações, do começo ao fim, em 5 minutos cravados por quilômetro.

Dois textos, um do próprio Gesu e outro do Sergio Xavier, diretor da revista e também presente em Nova York, contam versões diferentes da mesma história.

Vou transcrever a seguir parte do texto do SX, que conseguiu perfilar Gesu com maestria, especialmente para o leitor que segue planilhas e treina judiciosamente.

“(…)Tinha conversado com seu treinador em São Paulo. Daniel Neves, da Run & Fun, temia pela quebra. Toni não andava treinando com a turma. Em um treino importante, o longão de 32K, Toni chegou virado do show da véspera do Iron Maiden, uma de suas 14 bandas prediletas. Perguntei como seria a estratégia de alimentação durante a corrida. “Ah, eu trouxe do Brasil umas bananinhas para comer domingo”, disse ele na antevéspera. “Bananinhas? Você precisa de um gel, precisa repor sais minerais”, eu disse, já nervoso. Quando descobri que ele nunca tinha usado um gel, fiquei mais preocupado.”

Nos 25K da Maratona de São Paulo, que Gesu usou como preparação para Nova York, ele também manteve o ritual de véspera, ou seja, foi a um show, o da banda new wave B-52’s – sim, eles ainda existem -, e dormiu pouco.

Em Nova York fez algumas coisas diferentes. Dormiu “4 ou 5 horas”, tomou gel repositor duas vezes durante a prova, comeu batata assada e tomou Coca no KM 35 – lanchinho oferecido pelo pessoal da Run & Fun. Usou um frequencímetro, e seus batimentos começaram em 155-160 e no final estavam em “90% de esforço”. E sentiu muita vontade de ir ao banheiro, vontade que o perseguiu durante a prova inteira, mas ele preferiu não parar.

Como se atrasou para a largada, teve de correr com gente de pace mais lento. E viu, como em São Paulo, pessoas fantasiadas. “Havia o Elmo, de ‘Vila Sésamo’ e uma menina panterinha.”

Diz ter corrido 300 metros a mais do que o necessário, a julgar pelo que informa o GPS que portava. “Não fiz a tangente legal nas curvas.”

Os outros corredores da equipe ele mal viu. Estavam em outro pace na prova e nos dias anteriores se mantiveram juntos, comportados e concentrados. “Na maioria é um pessoal bem caxias com a preparação.”

“Eu não sou atleta, não tenho pretensão de ser, só gosto um pouco de performance para não precisar ficar muito tempo correndo uma maratona.”

Gesu não sabe ainda qual é a próxima missão, mas quer fazer de novo uma maratona como a de Nova York, que ele vê como especial, onde o público incentiva os corredores ao longo de toda a prova. Antes prometeu fazer comigo meu especialíssimo itinerário Lapa—Pico do Jaraguá-Lapa. “Agora já estou preparado.”

A íntegra da matéria está na versão impressa e para iPad da Runner’s, mas tem muita coisa boa aberta no site da revista.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

6 Comentários

  1. Avatar
    Renato Muller

    Prefiro Lapa-Jaraguá-Lapa. Disparado. Acho maratona um saco, mais de 3h correndo. Ainda mais num lugar gelado que nem NY. Meia maratona já dá pra ir bem longe, ficar fininho e sem atrapalhar o resto da vida pessoal. Legal quem curte maratona e ultra, mas não é pra mim…

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  2. Avatar
    Ricardo

    Eu animo correr a Lapa-Jaraguá-Lapa com vcs. Me avisem qdo forem correr! Abrs, Kba

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    • Paulo Vieira
      Paulo Vieira

      Sabadao?

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  3. Avatar
    tiago felipe da cunha e castro

    Caro Paulo,

    Queria parabeniza-lo pela matéria e gostaria de fazer uns acréscimo para aumentar a veracidade da sua matéria, para muitos ele é Gesu Bambino ou Tonhã, apelido que o seu pai também possui como mencionado, mas para mim e toda a sua familia Gesu bambino é Kalu, nosso Kalu e eu como primo e tenho certeza que os demais primos vão concordar comigo quando digo que é impressionante a energia desse cara e que quando você diz que antes da corrida ele foi no show do Iron, sem duvida alguma é verdade, me lembro algumas passagens ao longo da vida que me surpreenderam, numa segunda feira estava carregando porta com meu pai que haviamos guardado na casa dele para levarmos para o interior, acabamos por volta das 23horas, assim que acabamos o Gesu chega em casa do trabalho e ccomeçamos a conversar ate ai, normal, quando ele me surpreende com um convite de ir para balada em plena segundona, achei aquele convite surpreendente e disse Kalu balada em plena segunda eu passo amanha 7:00 eu trabalho, fora essa vez existe um outro dia que fui no Parque do Ibirapuera numa sexta feira as 23:00 para andar de patins, apenas 2 voltas no lago e ir embora para desestressar a semana, o dia estava frio e o parque vazio, logo na primeira volta encontro meu primo correndo numa boa, eu de patins encapotado estava com frio, o cara de camiseta de manga cumprida apenas e shorts correndo numa boa, pensei comigo esse cara nao existe, e claro mais uma vez me chamou para uma baladinha, novamente recusei, afinal ja sou casado, entre essas historias existem outras que comprove a veracidade dos fatos dessa pessoa que consegue ir num show num dia e no outro participar de uma maratona, enfim fica aqui o relato de alguem que conhece bem essa figura, acho que a perguntar maior é aonde ele consegue arrumar tanta energia para fazer tudo isso.
    ?

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