Jornalismo diletante

Paulo Vieira

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DILETANTISMO É O NOME QUE SE DÁ à dedicação exclusivamente por amor a um determinado ofício – é também o nome do disco do Rumo de 1983 que tem a famosa música Ladeira da Memória.

O paulistano Luiz Nascimento, 28 anos, coordenador de emissoras afiliadas da CBN, cargo que ele ocupa após ter passado por praticamente todas as funções do jornalismo da casa desde que entrou na emissora, há oito anos, é um diletante.

Logo, Luiz gosta do Rumo. Não, não é bem isso.

Luiz é seu sócio Cristiano Fukuyama são diletantes ao produzirem documentários sobre futebol – já são mais de dez, entre curtas e longas –, esporte que eles idolatram basicamente porque idolatram a Associação Portuguesa de Desportos, a Lusa do Canindé, que acaba de celebrar cem anos e tem no editor deste pasquim outro aficionado.

(Intervenção um tanto redundante: o fato de o clube estar nas divisões muito inferiores das ligas nacionais em nada interfere na idolatria. Talvez a reafirme.)

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Os dois começaram a filmar seus curtas e longas-metragens exclusivamente por amor à Lusa, culminando com o documentário Lusitanos, de 2h26 de duração, que exibiram em 14 de agosto, aniversário de 100 anos do clube — e dos 635 da batalha de Aljubarrota, que colocou a Casa de Avis na dinastia monárquica máxima do país.

O escudo da Portuguesa é o brasão da Casa de Avis, donde a extravagante nota histórica.

Um rubro-verde no cascalho

Ambos também mantêm o site Acervo da Bola, que compila perfis e histórias de jogadores de ontem e de hoje do clube. Para ambos, produtora e site são (ainda) “projetos paralelos e independentes”. Diletantismo, numa palavra.

A associação imediata com a Portuguesa, que poderia inibir trabalhos futuros, tema que já foi discutido pela dupla, vai permanecer. Mais: segue desejável. “Se não torcesse pela Portuguesa, talvez não fosse jornalista, já que comecei a ouvir rádio para acompanhar o time e depois tive um blog sobre a Portuguesa”, diz Luiz.

Na CBN, Luiz é o único dos quatro estagiários da turma de 2012 que seguem na rádio. Mas ele diz que há uma cultura de se aproveitar a “base” na emissora. O funil é voraz – a CBN, como todo o Grupo Globo, tem vivido downsizings constantes em busca do que o mundo empresarial chama de “sinergia”.

Antes chefe de reportagem, Luiz agora na coordenação de rede se vê numa função em que prospecção e gestão de negócios fazem parte do “job description”.

Luiz é um ex-jornalista que corre. Embora ame correr e tenha vivido o ciclo tradicional – prova de 5K, depois 10K etc. – e com a atividade tenha perdido um terço de seu peso corporal, dores no joelho direito por conta do desgaste precoce da cartilagem o tiraram de combate.

Se um dia ele voltar ao cascalho, é de se imaginar que a camiseta a ser utilizada é a mesma da foto acima.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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