Especial mara SP City – avaliando a corrida

Paulo Vieira

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EM TERMOS DE ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO, o Brasil joga na série C ou na D do circuito maratonístico mundial. Mas é inegável que a empresa Iguana, que organiza a SP City Marathon, vem lutando com sofreguidão para que subamos de divisão.

A empresa é focada exclusivamente em corridas no Rio e em São Paulo – e em apenas uma maratona, essa SP City, que viveu ontem sua quarta edição. É essa ambição restrita, acredito, a grande razão do contínuo aprimoramento dos eventos da casa.

Sua principal rival na organização de corridas, a Yescom (Notcom)/Globo, que faz a São Silvestre, a Volta da Pampulha e uma mara de São Paulo, entre outras provas enormes, em oposição, faz eventos piores a cada ano, como aconteceu neste 2019, nos 25 anos da mara de São Paulo.

Mas voltando à SP City. Com dinheiro novo da Cosan, que entrou no mercado de corridas comprando inclusive os “naming rights” da SP City, a mara pode caprichar ainda mais no que já é seu diferencial, o apoio de prova.

Eis o que Paulo Vieira, editor deste pasquim que ontem correu a nona mara de sua vida, tem a dizer sobre o evento. As avaliações vão de um a cinco estrelas, com a possibilidade do decimal (1/2) em cada quesito.

KIT

Mesmo com o pixo da Cosan, a receita oriunda de inscrições, segundo Paulo Carelli, sócio da Iguana, ainda responde por 2/3 da arrecadação global de uma corrida, cabendo o terço restante aos patrocinadores. Com isso, a Iguana caiu na real e passou a comercializar kits econômicos, sem camiseta.

Foi um desses kit “budget” que comprei por muito consideráveis R$ 149,90. Bastante, demais, too much para uma sacola de plástico oferecida como guarda-volumes, um número de peito com chip e dois alfinetes de segurança (dois! mas que dão conta do recado, verdade seja dita.) embalados num plastiquinho.

Mas eu decidi correr a SP City seis dias antes do evento. Quem compra por último paga tudo bem mais caro.

Avaliação: ***

ITINERÁRIO e ATRAÇÕES

A SP City segue a oferecer o melhor itinerário das maras de São Paulo, com Minhocão, Ipiranga com São João, Teatro Municipal, Viaduto Chá e praça da Sé como seus principais features. Mas perdeu pelo menos um de seus conjuntos musicais que embalam os corredores ao longo dos 42K. Há dois anos esse pessoal faltante do samba estava na altura do parque Ibirapuera.

Mas não foi uma perda. Nesta SP City voltou a figurar o quarteto de música erudita ao lado do Municipal, no 7K (e por uma coincidência estranha, no momento que passei por eles, ouvi, como há dois anos, Por una Cabeza. Ou os caras tocam esse tango clássico eternizado por Gardel em looping ou eu faço sempre o mesmo tempo de corrida).

O velho DJ que anima a tigrada dentro do interminável túnel sob o rio Pinheiros, no 19K, também estava lá, mas sem o aparato de luzes, uma perda e tanto no impacto na festa endorfinada dos corredores.

Ainda estava lá o grupo de okotô, ou algo que o valha, de tambores japoneses e outros mais brasileiros. Dentro da USP, eles eram ouvidos por quem passava no 31K e também no retorno da sofrível avenida Politécnica, por volta do 36K.

Avaliação: ****

APOIO

O grande destaque da SP City. É de se perguntar se a tigrada precisa de tudo aquilo, mas havia fatura de isotônico, frutas (em ótimo estado) e água. Se houve algum pecado aqui, foi o excesso disso. O melhor de tudo, na minha opinião, era a grande esponja molhada dada aos incautos no 30K e no 38K, dentro da USP.

Infelizmente ontem não estava aquele calor habitual da cidade, mesmo no inverno, o que tornaria mais prazeroso aquele banho maravilhoso que as esponjas proporcionam.

Avaliação: *****

PÓS-PROVA

Não tive muita disposição em verificar como andava o frege depois de 3:50 de corrida, mas o kit de pós-prova com toalhinha e alguns outros produtos dos patrocinadores, como um pote de whey, era muito bem-vindo.

Recuperar o acervo deixado no guarda-volumes era descomplicado e também havia um serviço de ônibus pago para algum destino que ignoro. Como não o comprei, encarei a caminhada até a estação Cidade Jardim e depois do trem e outras duas linhas de metrô, mais um pernada por dentro do cemitério do Araçá, cheguei à minha combalida TR4 em algum lugar do bairro do Pacaembu.

Muitos outros corredores também optaram pelo transporte coletivo, talvez por acreditar que depois de correr 42K nada pode ser pior, inclusive os 17 andares de escadas a descer na estação Pinheiros.

Avaliação: ****

FEIRA

O lugar fica no fim do mundo, no Centro de Convenções Transamérica, mas está a apenas 800 metros de uma estação de trem e metrô, a Santo Amaro. Há muito espaço interno, 10 x 0 comparado com o apertamento do Ginásio do Ibirapuera nos eventos da Notcom (este ano com área ainda mais reduzida).

Mas a qualidade dos expositores não mudou, com o mesmo predomínio do pequeno varejo de gravadores de camisetas, porta-retratos e outros serviços irrelevantes. Destaque positivo para alguns food trucks, o que dava um ar de modernidade e oferecia a possibilidade de uma estada mais longa.

Por fim, a audiência das palestras era por vezes melhor do que a qualidade dos próprios palestrantes.

Avaliação: ***

CRONOMETRAGEM

Tem um negócio incrível, que eu só fui descobrir ao fim da prova. A Iguana vai mandando parciais do tempo ao corredor via mensagem de celular. Foi assim que descobri meu tempo total de 3:50.

Até agora meu tempo oficial não aparece nos registros do site, por alguma falha. Meu bib 2702 não existe, meu nome e sobrenome tampouco, no painel de resultados do site. Mas para o resto da humanidade, o tempo já estava lá logo depois da corrida. Luxo.

Avaliação: ****1/2

Foto da home: divulgação

Acompanhe ao longo da semana a experiência pessoal do editor deste pasquim em sua nona maratona e também as “entrevistas suadas”

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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