Da orla ao Pelourinho – uma corrida por Salvador

Paulo Vieira

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SE VOCË VIVE NO SUDESTE, É DIFÍCIL ATÉ DE COMPREENDER a temperatura “flat” das cidades do Nordeste onde, por alguma razão, está de passagem e, nada mais natural, deseja dar uma corridinha.

Porque aqui não há amplitude térmica. Você vai dormir com 26 graus e acorda, se tanto, com 25.

Passei alguns dias na Boa Terra, e, em Salvador, acordei bem cedo para correr sob o que imaginava um sol leve.

Primeiro erro: acordar bem cedo aqui não significa despertar, digamos, 5h30. Nesse horário o sol – eis o segundo erro – já desponta glorioso e vivaz sobre o Atlântico; às 6h30, o calor já é um deus nos acuda.

Seguir portanto o circuito mais óbvio de corrida na Cidade da Bahia – a orla – é garantia de pegar o sol de frente, pois não há prédios que lhe sirvam de barreira.

Sofre menos quem deixa a visão do mar e ganha a ladeira da Barra e o Corredor de Vitória, ambos arborizados e sem incidência direta do sol, para fazer um inusitado circuito que pode terminar no Pelourinho.

Foi o que fiz ontem, partindo da orla, em Ondina, chegando por pedras e praias até perto da Barra, nas costas do hotel Vila Galé, e aí de novo pela orla convencional até o Porto da Barra.

A partir daí subi toda a avenida Sete, cruzei o Campo Grande e a praça Castro Alves, acenei para os dois novos luxuosos hotéis da região – o Fera e o Fasano –, passei defronte ao Elevador, fui à rua da Misericórdia, praça da Sé e entrei no Pelourinho pela entrada oficial, o Terreiro de Jesus.

O PRIMEIRO TREINO JQC EM SALVADOR

A CORRIDA VIVER BEM, DO SALVADOR SHOPPING, DE 2018

Eram umas 6h20 da matina de uma segunda-feira, e aquele pedaço mais turístico de Salvador ainda não havia acordado.

A volta foi por outro rumo, descendo a ladeira da Praça, pegando a Joana Angélica e depois a Direita da Piedade, para voltar à Sete na altura de seu número 1000.

Para não repetir o mesmo caminho de volta, desci pela Graça e Princesa Isabel, chegando à Barra entre a praia do Porto da Barra e o farol.

O Google Maps indica 17-18K a quilometragem total desse circuito, mas o fato de ter voltado cerca de 1h50 depois ao ponto de partida sugere que o cálculo é conservador.

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Foi em Salvador, uma das três capitais mais lindas do Brasil, mas poderia ter sido em qualquer outro lugar. A ideia de poder contar com o próprio corpo para se mover com tanta autonomia pelas cidades é  um dos meus porquês – talvez o principal deles – de correr.

É o que costumo chamar de ter o próprio ônibus de turismo particular.

A CORRIDA COMO UM ÔNIBUS DE TURISMO PARTICULAR

Foto da home: Bruno Girin/Flickr

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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