FAZIA MAIS DE ANO, talvez dois, não havia nem ainda eclodido a última epidemia de verão (dengue? zika? chikungunya? febre amarela?).
Uma cara. Mas ontem finalmente revi um velho e mítico cascalho, aquele que se tornou uma pequena obsessão para este pasquim, e que o editor deste JQC andava a evitar mesmo acordando e indo dormir com sua presença ululante nas janelas.
É que se de muitos lugares de Essepê vê-se o piko do Jaraguá, o ponto mais alto de Sampa, da minha casa ele parece bater à porta.
E correr até lá não é um mero capricho; até já ensejou desta pequena porém limpinha casa editorial a produção de um curta-metragem em vídeo quando ainda aspirávamos ser um dos braços da Conspiração Filmes.
Curta que você revê abaixo.
Correr da goma até o piko significa montar um roteiro de 17K (só de ida) com tudo o que um maratonista poderia desejar: cenas urbanas, variações de ritmo, áreas arborizadas e, claro, um 3,5K de subida que muita gente talvez prefira evitar.
Falta só uma terrinha para a coisa ficar perfeita.
Ontem não tinha erro: domingão, 8h30 da manhã, temperatura apenas um ou dois graus acima do desejável.
Mas como eu nem sempre controlo minhas pernas – corredores talvez entenderão a frase –, precisei mentalizar firmemente meus passos futuros para não acabar derivando para o centro da cidade, para a avenida Paulista, para os bolsões de trem, sabe Deus para onde mais.
A CORRIDA DO PIKO, A MAIS PROUSTIANA DAS CORRIDAS
ALGO NÃO ACONTECEU NA IPIRANGA COM A SÃO JOÃO – FELIZMENTE
CARNAVAL COM CRISTO REDENTOR
BOLAÑO, FUSCAS E PORTEIRAS NUMA CORRIDA IDÍLICA EM CUNHA
Mantive portanto o firme o propósito de seguir rumo noroeste, cruzando a Vila Romana na direção do Alto da Lapa e, de lá, rumo ponte da Anhanguera.
Cruzar o fétido e tão paulista Tietê é quase um ponto de não retorno desse cascalho, e instantes depois já se está a ganhar a passarela sobre a Anhanguera.
Atravessada a rodovia, ela jamais novamente é vista neste itinerário, apesar da brincadeira só estar a começar.
Meu caminho para o piko se vale das ruas muito arborizadas do entorno da avenida do Anastácio, que também uso quase em sua totalidade, e da Agenor Magalhães, que tomo igualmente quase de cabo a rabo, do Piritubão até a estação de trem da Vila Clarice.
Daí é passar por baixo da Anhanguera, cumprimentar os indiozinhos da reserva guarani e entrar no parque do piko.
Os 5K da estrada de acesso até o cume não são exatamente 5K de subida, mas o 1,5K final, pode-se dizer, machuca. Não a mim, que segui em tocada constante sem acusar o esforço.
Se considerado como treino, esse roteiro me parece menos exigente do que trivial. Porque ele incorpora variações de ritmo e a exigência da subida, o que ajuda a condicionar melhor até quem procura reduzir tempo numa prova plana (tipo um 10K da Track and Field na marginal Pinheiros).
É claro que talvez seja mais eficaz deixar um ou dois dias da semana para os treinos de intensidade, mas corrida não é exatamente dar tiros ou treinar para correr.
Visitar o piko faz bem para o corpo e para a cabeça. E se a cabeça não estiver boa, o ânimo para correr não dura muito.
Não é apenas no montanhismo que só o cume interessa.