Você amarra seu tênis no meio da prova?

Paulo Vieira

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ATAR O TÊNIS E MANTÊ-LO assim durante o cascalho não é para qualquer um. Não para mim, pelo menos.

Este pasquim já serviu a seus leitores numerosos exemplos de “how to”.

Escrevemos tutoriais, produzimos podcasts, filmamos a treta com requinte professoral, como pode-se ver abaixo, para que você mantenha os tênis firmões durante o 5, o 10, o 15, a meia, a mara, a ultra.

Para este velho casmurro nada disso serviu.

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Sempre prefiro correr com chip no número de peito, mas essa parece ser uma tecnologia pouco usual no Brasil. Quando o chip não precisa ir ao pé, posso usar meus velhos e adoráveis Nike Free, que dispensam o cadarço — embora venham com eles de fábrica.

Já fiz coisas bizarras, como correr a mara do Rio com o Free no pé direito e outra marca no pé esquerdo, por conta do cadarço (e do chip).

Mas vamos ao assunto de vez.

Em 22 de abril, na maratona Nilson Lima, a sexta completada pelo editor deste JQC, meu valente Fila Knit rapidamente desamarrou. Já não lembro qual pé abriu o bico primeiro, provavelmente o esquerdo, e isso aconteceu antes mesmo de desgarrarmos da tigrada da meia, lá pelo 12K.

Depois disso devo ter sido abordado por mais de vinte pessoas, que gentilmente alertavam para a verdadeira bomba relógio que levava em meu(s) pé(s).

Uma ciclista pareceu indignada ao ouvir a resposta de Hermom Dourado, jornalista que naquele momento corria a meu lado, que disse a ela que eu já havia tomado ciência de que competia com tênis desamarrado.

Faltando 4 ou 5K para o fim da prova, fui menos lacônico (mas não mais cordial) na resposta a outro maratonista preocupado com meu iminente tropeço.

Agradeci, como sempre faço, mas disse que àquela hora, faltando tão pouco para terminar a prova, é que não iria mesmo amarrar aquele troço.

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Sei que existem cadarços especiais, mais resistentes, confiáveis e elásticos, um deles comercializado aqui pelo conglomerado de Carlos Wizard Martins, que representa no Brasil as marcas Saucony, Rainha e Topper.

Cheguei mesmo a tentar comprar um  deles antes de viajar a Uberlândia, mas o que havia na loja, de outra marca, custava 30 ou 40 pratas, e achei extorsivo.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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