De que vale a experiência dos mais velhos?

Paulo Vieira

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É FAMOSO O CONSELHO DADO AOS JOVENS por Nelson Rodrigues. Numa longa entrevista estilo Sétimo Céu, com perguntas do tipo “Como o senhor define o Brasil” ou “Como o senhor explicaria a psicanálise”, ele disse:

“Jovens, envelheçam rapidamente.”

Bem, se a ideia subjacente aqui é de que a experiência dos mais velhos é fundamental para tomar decisões mais inteligentes, seguras, eficazes, decentes, uma cena do jogo Flamengo 3 x 0 Corinthians de anteontem jogou a famosa provocação do dramaturgo por terra.

Como lição por ver o companheiro de Flamengo Felipe Vizeu mal posicionado num escanteio, o zagueiro Rhodolfo falou-lhe um monte; não pareceu suficiente, pois Rhodolfo ainda usou os punhos em sua argumentação.

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Minutos depois, quando Vizeu anotou o terceiro gol do Mengão, veio a “devolutiva”: o dedo central esticado endereçado ao zagueiro.

Rhodolfo, o mais velho (esq.) e Vizeu num dos memes da semana/Foto: Reprodução
Rhodolfo, o mais velho (esq.) e Vizeu/Foto: Reprodução

Previsivelmente, as horas de mesas-redondas dedicadas ao assunto no domingo e ontem concentraram-se no acessório: a falha do juiz, que não expulsou a dupla.

Os coleguinhas ignoraram o que disseram os dois após o jogo, quando apareceram juntos para conceder entrevistas.

Ambos deram a briga de barato, “coisas do jogo”. Pior: Rhodolfo não admitiu que errou ao agredir o parceiro. Pelo contrário: foi uma tentativa de “ensinar algo para essa rapaziada”.

No registro do UOL, RHodolFo disse: “Falei para o Vizeu no vestiário. Somos amigos para caramba, sempre o apoio muito. Falei até antes do jogo que ele iria fazer gol. Faz parte. Ele é novo ainda e tem muito o que aprender. Nós, mais velhos, tentamos ensinar algo para essa rapaziada.”

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O exemplo de Rhodolfo é um contra-exemplo, o que talvez seja, do ponto de vista pedagógico, ainda mais eficaz. Serve para lembrar que, sim, os mais velhos têm algo a ensinar: neste caso, exatamente o que não fazer.

Pense nisso quando alguém na corrida lhe disser que ainda dá para ir muito mais longe, ou que “só rodar não adianta nada”.

Muitas vezes não adianta mesmo, mas não são papais-sabem-tudo, que ignoram o desenvolvimento individual do calouro, que serão bons conselheiros.

Em mais um contra-exemplo, agora trágico, o jornalista americano James Fixx, autor do seminal Guia completo da corrida, obra crucial para o desenvolvimento do cascalho nos Estados Unidos nos anos 1980, morreu correndo aos 52 anos.

Seu pai havia morrido do coração aos 43.

Fixx dizia que qualquer pessoa não fumante poderia completar uma maratona abaixo de quatro horas. E que jamais sofreria ataque cardíaco na prova.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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