JÁ DISSE PRAGANA SANTOS QUE não existiria som se não houvesse silêncio, verso admirável que funciona bem como epígrafe de qualquer coisa – inclusive o texto que segue abaixo.
(Não tenho mais tanta certeza.)
Não existiria o jornalismo um dia quem sabe inventivo, mas ainda hoje razoavelmente legível, da Folha de S.Paulo, se não houvesse o Datafolha, seu braço de pesquisas, gerador ele mesmo de manchetes, especialmente durante períodos eleitorais.
Ontem o instituto de pesquisas novamente pautou a “primeira”, como é a chamada nas internas a primeira página, a capa do jornal. E não era para falar de Huck, Lula ou Bolsonaro.
Tratava-se de uma pesquisa sobre juventude e envelhecimento, sobre idade, digamos assim, realizada com 2 732 brasileiros maiores de 16 anos. Cerca de um terço das entrevistas foram feitas com pessoas de 60 anos ou mais.
Entre outras coisas, perguntou-se à tigrada com quantos anos finda a juventude e com quantos anos começa a velhice. Resposta para a primeira pergunta: 37,1 anos; para a segunda, 63,8.
Estatísticas desse tipo, como se sabe, são formuladas a partir de uma média, a média das respostas do vox populi. Há, contudo, gradações. Considerando-se apenas as respostas das sexagenárias, septuagenárias e daí pra frente, a juventude dura mais, vai até os 46,7 anos.
Tudo isso para dizer o que tantos aqui já sabem. A corrida é um esporte generoso, que acolhe muito bem os veteranos. Basta ir a qualquer corrida, de 5K a ultramaratonas, para constatar.
É bem possível que corredores se considerem mais jovens que contemporâneos justamente pelo bem-estar proporcionado pela corrida.
Foram oito os maratonistas com mais de 70 anos da última SP City; o primeiro a chegar fez 3:42:31. Três e quarenta e dois – eis uma marca que eu estou vendo ficar cada dia mais distante. Os três septuagenários que chegaram em seguida concluíram a mara abaixo de 4:15.
Parece haver uma transição natural dos mais velhos para a “rodagem”. Depois que a gente empilha maratonas, e com isso a dificuldade de manter aquele pace subitamente mais pesado – digamos 4:55 –, vem a ideia de que 42K não é mais o limite.
Aos 59 anos, a Satie Kimura, que treina com a assessoria Pacefit, já esteve num 55K e pretende encarar voos mais altos, como você pode ver no vídeo embebido abaixo – uma das Entrevistas Suadas que colhi lá pelo 14K da SP City 2017.
Recentemente Satie disputou em Sorocaba sua 15ª maratona – 15ª se não erro para menos a contagem – e a finalizou com elegantes 4:37:27. Desta prova também participou o Monstro de Curitiba, nosso colaborador Ralph Tacconi, mas Ralph não bateu nem nos 40 (anos).
Há muita gente disputando provas de corrida com mais rodagem (de vida) do que a Satie.
Este JQC, agora DataJQC, quer saber: em quantos anos a corrida estendeu a sua juventude?
Agradeço as respostas nas caixas de comentários deste pasquim ou mesmo nas redes sociais
Muito obrigado.