TÃO PREVISÍVEL QUANTO TRUMP DEFENDER O COMÉRCIO de armas nos Estados Unidos após os cada vez mais comuns massacres como o deste domingo, no Texas, é outro queniano de quem ninguém havia ouvido falar – exceto o Iberê, claro –, ganhar uma maratona major.
Ontem foi a vez de Geoffrey Kamworor, o 14º queniano a levar Nova York. No feminino deu stars and stripes, algo que não se via havia exatos 40 anos.
Shalane Flanagan, 36 anos, prata nos 10 mil metros dos Jogos de Pequim, em 2008, completou os 42K pelos cinco distritos da Grande Maçã em 2:26:53, e o New York Times conta com propriedade essa história aqui.
Entre as brazucas, a Adriana Aparecida, do Pinheiros, fechou no 17º lugar, a primeira latino-americana da competição, com 2:37:22.
Mas a gente neste pasquim está mais ao rés-do-chão, falando com quem corre de maneira mais terrena, ou seja, nego que completa a mítica distância acima dos 3:34.
(Ainda que agora faça parte do time de colaboradores o Ralph, o Monstro de Curitiba, o talk of the town da Boca Maldita naquele ano em que planou pelos contrafortes do Marumbi e fechou a mara da capital paranaense em 3:16.)
Como um mestre de cerimônias que enrola para apresentar o convidado que ainda está preso no congestionamento, me alongo à espera que bata no meu e-mail as respostas da Renato Louro, 40 anos, a colega que fechou NYC ontem em 4:09:57.
Até os 32K ela vinha sentando a bota, mas aí aconteceu algo que atrapalhou sua corrida.
Como o Cesinha, o Novo Maratonista, Renata é planilhomaníaca e treina com a assessoria esportiva do Marcos Paulo Reis, a MPR. Seu marido, o Daniel, corre junto com ela, e fechou três minutinhos depois – este ano ele já fez um 50K em montanha, e NYC não era “prioridade”.
O casal não era novato em “majors” – já havia corrido Berlim, ano passado, quando a Renata fez 4:03 e o Daniel, 3:50. Ano que vem que eles correm juntos os 100K da Cruce de los Andes – e talvez a Renata coloque uma maratona, a de Porto Alegre, no meio dos treinos, só pra esquentar.
Chegou o e-mail.
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DESDE O COMEÇO A ALTIMETRIA de Nova York me assustou, mas me preparei como nunca: muita musculação, dieta e treinos de subida para que a prova não fosse um sofrimento.
E como havia acontecido o atentado na terça-feira, 31 de outubro [que vitimou oito pessoas em
Manhattan], eu fiquei preocupada, mas imaginei que a segurança seria redobrada.
A organização da prova mandou e-mail avisando que a segurança seria reforçada e, de fato, toda a área da prova estava com muito policiamento. Policiais armados, tanques.
Mesmo assim… eu amei a prova! Estava frio e chovendo e mesmo assim havia muita gente gritando, carregando placas, cartazes, sinos. Famílias inteiras, crianças pequenas dando high five, pessoas distribuindo frutas, um astral incrível!
É uma delícia correr ouvindo essa animação toda.
Eu estava bem, concentrada e muito feliz. A cabeça boa, o corpo respondendo superbem.
Mas infelizmente no 32K eu caí. Levei um tombo feio, virei o pé e bati forte no chão. Dali pra frente comecei a sentir muita dor no pé e no quadril. Parei quando encontrei o treinador (no 35K), sentei, passei um gelo e chorei muito. Um misto de dor e frustração!
Junto com o treinador estava uma amiga que ajudava no suporte e torcia pela gente. Ela me levantou do chão e não me deixou desistir. De lá até o pórtico de chegada acompanhou minha caminhada, alguns trotes e muitas lágrimas.
Fiquei um pouco frustrada com o resultado final, pois havia me preparado muito. Mas estou feliz e grata por ter concluído mais uma maratona – a minha terceira. Não no meu melhor tempo, mas feliz, numa prova incrível, com meu marido e amigos queridos por perto.
Durante a prova achei tudo impecável. Hidratação a cada milha (1,6K) com água e isotônico. Havia ainda postos de frutas e de gel, assistência médica, muitos banheiros. Uma prova espetacular.
Uma mara que certamente faria de novo, independente da minha frustração com a queda e o tempo final.
Culpa do astral incrível, da energia maravilhosa das pessoas nas ruas, da organização impecável!
Eu amei muito fazer Nova York!