Homens e meninos

Paulo Vieira

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O PROVÉRBIO MAIS HEDIONDO JÁ DITO pelo maratonista, esse fetichista at large, é aquela besteira que reza que é a mítica distância da maratona, os 42K, que separa, que separam, os “homens dos meninos”.

Além de espetar um toque machista à coisa toda, assumindo o gênero majestático, a frase faz troça dos corredores de outras distâncias e, mais problemático, dos corredores em geral.

MARATONA, O FETICHE

ONDE QUERES GUERREIRO ÉS SÓ FETICHE

MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE

MINHA SEGUNDA MARATONA, HAIKU

MINHA TERCEIRA MARATONA, A PRIMEIRA QUEBRA A GENTE NÃO ESQUECE

CORRIDA É PRAZER

MARATONA, A CRETINICE FISIOLÓGICA

O MURO DOS 32K

Acreditar em tal estultice é ter para si que só faz sentido correr se a atividade transcorrer num campo de batalha.

Não, amigos, não é nada disso. Como este pasquim afirma, reafirma e confirma já faz uma cara, corrida é prazer.

É disso, e apenas disso, que se trata.

No pain, no gain é, destarte, c* d* r*

Hossein, o maratonista/Foto: Hamed Saber (Flickr)
Hossein, o maratonista/Foto: Hamed Saber (Flickr)

Posto isto, dou o braço incontinenti e bonito a torcer: há mesmo um componente na maratona que a torna bem mais demandante que as demais distâncias de corrida (esqueça as ultras e o triatlo).

Basicamente, a exigência física da prova estaria acima das nossas possibilidades físicas.

A partir do 30-32-35K surgiria o “muro”, ponto a partir do qual nossas reservas energéticas acabam.

Se não houver mínima reposição – e géis de carboidrato ofertados durante as provas parecem servir para isso – fica-se pelo caminho.

Iberê Dias, o juiz voador, chamou a maratona, prova que ele concluiu repetidas vezes em tempos cavalares, abaixo de 3 horas, de “cretinice fisiológica” – o link vai acima.

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Por mais que o maratonista concorde com tudo aqui exposto, é difícil convencê-lo a abandonar a distância. Mal colocamos no peito a medalha, já arquitetamos a próxima.

Eu vou para a minha quarta maratona, a segunda em 40 dias, neste domingo, na Cité Maravilhé.

Chegar ao Recreio de ônibus ou de carona é que vão ser elas.

Tudo bem: poucas coisas se equiparam a ouvir (e ver) a incredulidade do interlocutor quando ele faz a doce e maviosa pergunta: “Mas você fez mesmo a full?”

Pensando bem, a maratona separa homens de meninos. Mas são meninos os que gostam mesmo dos 42K.

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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