Nabil Ghorayeb e o risco do crossfit, entre outras conversas do coração

Paulo Vieira

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ELE É ONIPRESENTE. Além de atender no hospital público Dante Pazzanese e e em seu consultório, em São Paulo, acha tempo para assinar uma coluna num portal de internet da Vênus Platinada (sem receber patavina por ela), falar à rádio Jovem Pan e ao programa Fôlego, da Band, e estrelar vídeos curtos para o laboratório Fleury.

Pode-se dizer que o cardiologista Nabil Ghorayeb, especialista em medicina do esporte, vem colhendo o que plantou.

É que lá atrás, nos anos 1980, por aí, quando “nem mesmo jogadores profissionais de futebol faziam avaliações médicas”, ele passou muitos domingos acompanhando corridas de rua para “chamar os velhinhos” a fazer exames do coração.

POR QUE O CORAÇÃO NÃO CANSA COMO OUTROS MÚSCULOS

ALGUMA COISA NÃO ACONTECEU NO MEU CORAÇÃO NA IPIRANGA COM A SÃO JOÃO – FELIZMENTE

FÔLEGO, O ARAUTO DA CORRIDA DE RUA

SERGIO PATRICK E O CASCALHO NOS TEMPOS DE TRUMP

DOUTOR CROSSFIT

É A CABEÇA, ESTÚPIDO

BRADICARDIA, EU TE AMO

UMA RECEITA DE HIIT

Doutor Nabil já disse que “esporte não é saúde, atividade física, sim”. Por isso, a palavra-chave, você intui, é moderação. Ele me recebeu em seu consultório bastante austero no Ipiranga, a poucos quarteirões do museu famoso – inacreditavelmente fechado há uma data –, para a entrevista cuja primeira parte segue abaixo. Evoé.

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VIROSE, A INIMIGA DO CORAÇÃO. No Brasil, muitos quadros de cardiopatia são induzidos por simples viroses. “Gripes simples podem provocar inflamação do músculo cardíaco, podendo ter curso benigno, mas também fatal”, disse ao JQC. Ele citou o ator Felipe Titto, da TV Globo, que sofreu uma miocardite e foi internado em São Paulo no fim de janeiro por essa razão.

Destarte, ele sugere que exames de avaliação cardiorrespiratória, normalmente pedidos uma vez por ano ao atleta amador, sejam atualizados logo após intercorrências médicas.

MODERAÇÃO, A CHAVE. Como o desenvolvimento de uma cardiopatia pode se dar de maneira assintomática, o médico recomenda não exagerar na dose, ou seja, pegar leve nos treinos, especialmente quando o sistema imunológico não estiver 100%.

“Exames de hemograma e de anticorpos mostram que muitos atletas de alto nível têm imunidade diminuída, é preciso atentar para essa janela de fraqueza do organismo. Quanto mais intenso, quanto maior o volume de treinos, mais chance de diminuir as defesas.”

Nabil/Foto: Cardioesporte.com.br
Nabil/Foto: Cardioesporte.com.br

ATLETA AMADOR, O PROBLEMÁTICO. O médico diz que o atleta amador é que preocupa mais, por ser “mais competitivo” que o profissional. “Já houve óbitos de cardiopatas que minha equipe no Dante Pazzanese acompanhava e que estavam liberados para correr desde que não ultrapassassem certos limites. Mas o amador disputa silenciosamente com os amigos,  não aceita que o ‘primo’ o ultrapasse. O sprint final pode ser letal.”

HIIT E CROSSFIT, ATIVIDADES DE RISCO.  “O HIIT (treinamento intervalado de alta intensidade) e o crossfit podem ser muito úteis para o condicionamento cardiovascular, mas não podem ser considerados remédios para todos os males”, alerta.

“Um em cada três praticantes de crossfit não tem condições físicas de praticá-lo. Precisa haver controle de pressão arterial e do esforço do coração. O crossfit gerou um aumento significativo de lesões de coluna – um gesto esportivo errado pode deixar o praticante paraplégico. A vantagem é que com o aumento dessas lesões, o atleta vai ao ortopedista antes que seu coração entre em risco vascular. Ou seja: o sujeito pode ser salvo por uma lesão ortopédica.”

ATIVIDADE FÍSICA NÃO É VACINA  Doutor Nabil é evidentemente defensor intransigente da atividade física, mas deixa claro que ela “não é vacina nem poupança para o futuro”. “A memória esportiva segue o gesto esportivo. Parou, zerou.”

Ele conta que pessoas que têm bradicardia (o chamado “coração de atleta”, quando a frequência cardíaca é de 50 ou menos batidas por minuto) podem perder essa condição saudável em 15 dias.

O médico gosta de citar uma pesquisa feita com japoneses de idade provecta que se mudaram para o Havaí e adotaram hábitos americanos pouco saudáveis. Mas que ao menos caminhavam regularmente. Um grupo caminhava 500 metros por dia, o outro, 1 500 metros. Este grupo, segundo ele, teve sobrevida 50% maior que aquele.

Esse mesmo estudo também foi mencionado por ele em entrevista a Jô Soares em 2014. Na ocasião o percentual era de 40%.

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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