A hora de parar

Paulo Vieira

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CORREDORES PODEM TER, EM GERAL, UM SISTEMA IMUNOLÓGICO menos vulnerável do que pessoas pior condicionadas, mas não estão imunes, claro, a contrair doenças de origem bacteriana, viral e o escambau. Às vezes o próprio esforço exagerado numa prova ou rodagem mais exigente acaba por deprimir nossas defesas e abrir espaço para o inimigo.

Foi o que aconteceu com nosso correspondente na Cidade Maravilhosa, o maratonista desencanado Ricardo Henrique, que teve de parar 50 dias por conta de complicações de saúde provocadas por bactérias.

O MARATONISTA DESENCANADO

A MARA DO RIO, KM A KM, POR RICARDO HENRIQUE

DA BARRA AO CRISTO, COM O MARATONISTA DESENCANADO

O TREINO MAIS LINDO DO MUNDO, POR EDU ELIAS

O CASCALHO, 58 DIAS DEPOIS

MEU PÉ ESQUERDO

A VOLTA POR CIMA DE TATIANA FERRAZ

Perto desse enrosco, meus 58 dias longe do cascalho foram fichinha.

Foram 50 dias cabulosos, quinze dias num hospital, noites e noites com febre.

Ele conta como saiu dessa e se reencontrou com o cascalho.

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A SEMANA TINHA SIDO ÓTIMA, de segunda a sexta havia acumulado mais de 80K de treino. A intenção era correr uma ultra de 63 K na Patagônia.

No sábado não corri e no final da tarde a febre chegou. Fui segurando com com antitérmicos até a noite seguinte, quando parei no hospital. Lá fiquei não um ou dois dias, mas quinze, acometido por uma infecção generalizada com direito a duas bacteremias etc.

Depois disso ainda fiquei em tratamento com antibióticos. Por determinação médica, tive de deixar a corrida por 50 dias. Ao final desse tempo, saí com um casal de amigos, Eduardo e Adriana, que veio de São Paulo e partimos para um treino na arborizada ciclovia do Canal de Marapendi.

Foram 9K divertidos, conversados e muito tranquilos. Só no dia seguinte é que senti a volta. Subir uma escada foi uma tortura, a musculatura se contorcia de dores. Eu não sabia o que era isso fazia muito tempo.

Eu havia perdido quatro quilos de massa muscular e precisava reestabelecer um novo condicionamento para voltar a correr. Passei a fazer exercícios funcionais antes de botar o pé pra fora de casa, respeitar os limites que o corpo claramente me mostrava; passei então a sair para correr sem metas definidas, ia só aonde a musculatura permitia, aonde o fôlego deixava.

Eu buscava prazer, não queria sofrer. Num dia fazia 5K, no outro 7K , depois  6K, então 10K, no dia seguinte nada, os paces eram os mais variados, a velocidade (que nunca tive) oscilava de acordo com a disposição.

Fui nesse pegada para não arriscar uma lesão, mas sem perder a satisfação (I can’t get no).

Somente um mês depois desse retorno irregular fiz 16K. A partir daí a segurança foi voltando e as distâncias aumentando. Aproveitei o interesse da minha filha Natasha em correr e participamos juntos dos seus primeiros 12K. Foi  muito bom. 

Eu estava de volta! (A hey, hey, hey).

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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