Iberê Dias é juiz de direito, mas se decidisse se tornar treinador de corrida dizimaria o mercado. É provavelmente o sujeito que mais entende dos benefícios e eventuais malefícios desse esporte no organismo humano. Lê adoidado – e supostamente as coisas certas.
(Se você ouvisse o que ele tem a dizer sobre alongamento, por exemplo, pensaria em processar seu treinador.)
Além disso, é brindado com uma capacidade mnemônica digna do PVC, o que ajuda a tornar sua argumentação bastante convincente. Não bastasse o que já foi dito, ele se tornou um corredor com tempos semiprofissionais em não mais de uma década, década e meia dedicada ao esporte. Já correu a meia a 1:17 e a maratona, prova que estreou em 2007, a, pqp, 2:44.
JORNALISMO À PVC
IBERÊ E O LONGÃO
ALONGAMENTO, A POLÊMICA
IBERÊ E OS MENORES CORREDORES
MARATONA: CARTILHA PARA NEÓFITOS
MARIO SERGIO SILVA E O MURO DOS 30K
Em abril, ele corre sua décima-segunda maratona. Mesmo assim, ele não tem palavras muito simpáticas para os 42K.
“A maratona é uma idiotice, um absurdo, uma cretinice fisiológica, sem nenhum propósito razoável.”
Ele explica:
“Fala-se muito do ‘muro’, da depleção (perda) de glicogênio a partir do 30K-35K. Mas eu diria que o muro não está relacionado exclusivamente a isso. Acho que há um bom tanto do desgaste das fibras musculares, e há o cérebro gritando que você é um idiota completo por querer continuar correndo depois de, sei lá, 35K.
Para quem está sempre procurando o limite, ainda que haja gasolina azul – glicogênio – no tanque, as fibras musculares já estão pifando, a temperatura corporal estará mais elevada, o cérebro estará remando contra para manter viva sua espécie.”
Iberê não mencionou (nem lhe foi perguntado) uma variável crítica no Brasil, a temperatura das provas. A maratona de São Paulo, em 2014, por exemplo, foi corrida a 30 graus, marca insana que agrava dramaticamente tudo o que foi dito acima. Ocorre que nosso bom juiz é useiro e vezeiro das maratonas de cidades de climas temperados, como Chicago, Boston, Roma.
Para finalizar, menciona a exceção que possivelmente confirma a hipótese do desgaste das peças. “Vejo corredores que dizem ter chegado bem e forte ao 35K e ainda ter acelerado sem problemas até o final. Realmente pode acontecer. Mas acho que quem consegue aumentar demais o ritmo na parte final da maratona – já aconteceu comigo – esteve aquém do ponto ótimo na parte inicial.”