O sal sem sal

Paulo Vieira

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Eduardo Rascov, o Eslavo, o homem que achou ouro no monturo e produziu a biografia do Filósofo Voador, entrevistou-se uma vez com a escritora Patrícia Melo, que à época fazia pesquisas para seu famoso O Matador.

Ela havia conhecido alguns pés-de-pato, como os matadores são chamados na periferia. A entrevistas tantas, decidiu que aquelas conversas não a ajudavam na composição do protagonista do seu livro. E disse ao velho Esla: “A realidade é menos verossímil que a ficção.”

Lembrei dessa história ao ficar sabendo que um sal sem sódio chegou ao mercado. Você acreditaria se alguém lhe dissesse que o sal, o comezinho sal de cozinha, o velho Cisne ou sei lá que outra marca famosa há disponível para vir agora em meu auxílio retórico, pode não conter, ã, sal?

Pois me parece que a definição de sal, ao menos o sal de cozinha, é justamente essa: cloreto de sódio. Acho que nem Will Self se atreveria a falar de sal sem sal em sua ficção.

Velha Escola/Foto: Paulo Vieira
Velha Escola/Foto: Paulo Vieira

Bem, o tal “salgante”, como o produto vem sendo chamado, já foi autorizado pela Anvisa e pode ser comprado por este site. Ele tem cloreto de potássio, que também salga os alimentos e tem menos contraindicações.

“O consumo recomendado pela Organização Mundial de Saúde de potássio para os adultos é de 3,51 gramas por dia”, diz a nutricionista Serena del Favero, de São Paulo. Para se ter uma ideia, seria preciso tomar sete copos de suco de laranja ou comer 4,5 xícaras de amendoim para chegar a esse patamar.

Já o sódio, tão ligado a problemas de hipertensão, tem sua dose diária recomendada pela OMS em menos de 2 gramas por dia. Isso equivale a 5 gramas de sal,  uma colher de chá rasa do pó branco. O problema é que há sódio abundante nos alimentos, notadamente os industrializados.

Um pacote de Baconzitos e xi, Marquinho.

Mas o Bio Salgante, nome do novo sal de potássio, também não é a panaceia, essa palavra que eu gosto tanto.

“Não adianta usar esse salgante e depois comer um monte de produtos industrializados, cheios de sódio. É preciso sempre procurar o equilíbrio nos hábitos alimentares”, diz Serena.

O salgante foi criado após pesquisas conduzidas pelo químico Massayoshi Yoshida, da USP. É vendido em embalagem de 100g e custa uma paulada em comparação ao  velho sal de sódio: R$ 16,90.

Dá para pagar em duas vezes.

 

 

 

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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