Eduardo Rascov, o Eslavo, o homem que achou ouro no monturo e produziu a biografia do Filósofo Voador, entrevistou-se uma vez com a escritora Patrícia Melo, que à época fazia pesquisas para seu famoso O Matador.
Ela havia conhecido alguns pés-de-pato, como os matadores são chamados na periferia. A entrevistas tantas, decidiu que aquelas conversas não a ajudavam na composição do protagonista do seu livro. E disse ao velho Esla: “A realidade é menos verossímil que a ficção.”
Lembrei dessa história ao ficar sabendo que um sal sem sódio chegou ao mercado. Você acreditaria se alguém lhe dissesse que o sal, o comezinho sal de cozinha, o velho Cisne ou sei lá que outra marca famosa há disponível para vir agora em meu auxílio retórico, pode não conter, ã, sal?
Pois me parece que a definição de sal, ao menos o sal de cozinha, é justamente essa: cloreto de sódio. Acho que nem Will Self se atreveria a falar de sal sem sal em sua ficção.
Bem, o tal “salgante”, como o produto vem sendo chamado, já foi autorizado pela Anvisa e pode ser comprado por este site. Ele tem cloreto de potássio, que também salga os alimentos e tem menos contraindicações.
“O consumo recomendado pela Organização Mundial de Saúde de potássio para os adultos é de 3,51 gramas por dia”, diz a nutricionista Serena del Favero, de São Paulo. Para se ter uma ideia, seria preciso tomar sete copos de suco de laranja ou comer 4,5 xícaras de amendoim para chegar a esse patamar.
Já o sódio, tão ligado a problemas de hipertensão, tem sua dose diária recomendada pela OMS em menos de 2 gramas por dia. Isso equivale a 5 gramas de sal, uma colher de chá rasa do pó branco. O problema é que há sódio abundante nos alimentos, notadamente os industrializados.
Um pacote de Baconzitos e xi, Marquinho.
Mas o Bio Salgante, nome do novo sal de potássio, também não é a panaceia, essa palavra que eu gosto tanto.
“Não adianta usar esse salgante e depois comer um monte de produtos industrializados, cheios de sódio. É preciso sempre procurar o equilíbrio nos hábitos alimentares”, diz Serena.
O salgante foi criado após pesquisas conduzidas pelo químico Massayoshi Yoshida, da USP. É vendido em embalagem de 100g e custa uma paulada em comparação ao velho sal de sódio: R$ 16,90.
Dá para pagar em duas vezes.