Não é nostalgia e não é exatamente preguiça, palavra que a gente esconjura com posts exemplares como o da Zilma, o da gringa louca por maratona e tantos outros.
Mas com a mudança da Runner’s lá pros lados da Fradique Coutinho, agora que a franquia da revista no Brasil passa a pertencer às organizações Alzugaray Inc., fiquei com medo deste arquivo, bastante pouco acessível aliás, ir, como se dizia nos meus tempos do JT circa 1990, para o “spike”.
Então, aproveitando que hoje todo mundo está a meio pau – eu também após correr 14K pela manhã –, reproduzo aqui um texto meu publicado na Runner’s, no blog Correria, do ubíquo Sergio Xavier.
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Paulo Vieira, redator-chefe da Viagem e Turismo e torcedor da Lusa, correu a Meia do Rio, no domingo. Ele conta como foi a prova.
“O tênis não foi meu principal problema, embora eu tenha saído com aquela ferida chata em cima do tornozelo e um calo logo abaixo do dedão direito. Meu principal problema foi condicionamento mesmo.
Cheguei me arrastando, tendo quase desistido a 2K da chegada. Não sei ainda meu tempo, cerca de duas horas certamente, mas sei que corri mais do que de costume (já explico), num ritmo mais acelerado, e sei também que vinha da pior dieta possível.
Vou demitir meu nutricionista, que sou eu mesmo. O que eu comi no sábado todo de véspera: oito maçãs enquanto dirigia entre Sampa e Rio e quatro sardinhas escabeche na Adega Pérola, de Copacabana. Agora, a corrida.
Antes mesmo de começar, a primeira trapalhada: larguei o carro em Sao Conrado, a 3,5K da largada e, como era tarde, fui correndo. Ou seja: corri 24,5K no total. Embalado por estar numa prova, coisa que não fazia há 30 anos, sai do meu ritmo, puxando mais do que os habituais 5’30″/km. E não dá pra dizer que os torcedores ajudavam, pois havia pouquíssimos naquela manhã de vento e chuva.
Até Ipanema foi surpreendentemente tranquilo, mas a coisa começou a se complicar no meio de Copa, quando comecei a calcular visualmente as lonjuras a enfrentar. O edifício do Hotel Windsor, o antigo Meridien, onde a gente vira em direção aos túneis para Botafogo tão longe…
Passado o segundo túnel, o sofrimento. Ansiava pela próxima placa de quilometragem, que nunca vinha. Minha cabeça não desconectava: não vai dar, não vai dar… Tudo começou a ficar ruim, uma batucada, alguém falando “vai, falta pouco”. Faltava, mas não ia dar.
E não deu mesmo. No 19K, entreguei os pontos e passei a caminhar. Na minha cabeça, o álibi: eu não completei correndo, mas teve aqueles 3K a mais antes de começar. Se alguém perguntar…
Por sorte, me senti o mais desgraçado dos homens, e achei forças para enfrentar os 2K mais sofridos da minha vida, quando a chegada, em vez de se aproximar, parecia nunca mais vir. Andei apenas por 500 metros.
(E isso me lembra a síndrome da linha de chegada)
Cruzei arrebentado, só não evocando na mente as imagens da maratonista suíça bêbada de esforço porque nada vem a mente nesse momento. Jeito meio estranho de meditar.
Se parasse abruptamente, como eu queria, desmaiaria. Foi o que disse o Nassif, um desses anjos da chegada, que me acompanhou andando por 5 minutos até a ameaça de tontura se dissipar.
Não queria em nenhum momento, desde a hora da inscrição, dar a essa prova o significado de conquista pessoal, superação de limites, que isso quem merece são médicos sem fronteiras, professores vocacionados, cientistas e gente que consegue fazer aquilo que realmente quer da sua vida.
Mas eu me senti um pouco assim, o homem da superação, quando subi no ônibus na Avenida Oswaldo Cruz e minha filha, no celular, perguntou se eu tinha ganhado.
A propósito, usei um tênis Nike preto que é até bonito, bem melhor que o velho Daytona, mas diante de um tênis de corrida pesa uma tonelada.”