O todo e a parte

Paulo Vieira

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Maria Vitória tinha problemas de fração para resolver na lição de casa de hoje. Combinei de encontrá-la após sua aulinha de culinária para ajudá-la. Quando cheguei, já os tinha resolvido, o que não significava que os tinha resolvido bem.

Pelo contrário.

Apesar da fartura de exemplos, Vitória não havia entendido a razão de ser, a raison d’etre, para ser pedante, das frações. O todo e a parte. Simplesmente multiplicava o numerador pelo denominador e resolvia o problema chegando a um valor extravagante, sempre maior que o número dado – o todo -, que era olimpicamente ignorado.

Podiam ser a dúzia de laranjas, os dez bombons, as xis flores. Ela não via o conjunto e tampouco, obviamente, dividia os elementos desse conjunto pelo terço, quarto, quinto etc. – a fração.

Como é do meu feitio, fui me exaltando ao tentar explicar com desenhos e na palma da mão o todo e suas frações. Em certo momento, premida por antever o próprio fracasso e pela minha impaciência, chorou.

Não foi a primeira vez.

Professor aloprado
Professor aloprado/Foto: Maria Vitória Medeiros Vieira

Felizmente,  eu e ela logo conseguimos chegar a bom termo. Ela se recompôs com rapidez, e, quase que por mágica, começou a entender meus exemplos de todo – meu corpo – e de parte: braços, pernas, terços, quartos etc. Naquele momento parece ter removido o obstáculo que a fazia minutos antes entender bulhufas do que eu falava.

Parece, espero, ter compreendido que o resultado daquelas operações não poderia jamais ser maior que o número dado – o todo.

Por que estou falando isso?

Não sei direito. Claro que a história, que pode servir como parábola por suas cores dramáticas e por falar de uma das coisas mais essenciais de nossas vidas, o ensinamento, é modelar o suficiente. Ainda que não tenha muito a ver com corrida.

Talvez a lição que fique seja mais pra mim, que na parábola sou o professor: é preciso respeitar e entender o entendimento – ainda que parcial, obtuso, confuso – de quem quer entender.

Meus respeitos, portanto, ao professor Darlan Duarte, da Pacefit,  que no vídeo que embebedo abaixo ensina com paciência e proficiência alguns exercícios para a gente melhorar a eficiência da nossa corrida.

Se tiver dúvida, não tem problema. Ele vai ensinar tudo de novo, sempre com paciência.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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