O material foi reunido pelo jornalista Ricardo Setti, que o colocou em seu canal do YouTube, e foi a coisa mais viciante que eu vi na internet desde, talvez, Seinfeld. Não por seu valor intrínseco, naturalmente. É que eu trabalhei naquele mesmo ambiente, naqueles mesmos computadores, naquele mesmo programa DOS. Não no Estadão, como mostram os filmetes, mas no irmão caçula, o finado JT, do outro lado do corredor.
A redação do Estadão em 1991 era peso-pesado. Comandada por Augusto Nunes, sob cuja gestão o bravo matutino começou a circular às segundas-feiras, mais de um século depois de sua fundação, tinha ainda Ricardo Setti, William Waack, que na época cobria com Hélio Campos Mello a invasão do Kwait pelo Iraque – a dupla ficou uns dias à deriva e o jornal fez barulho -, o elegante Pedro Cafardo, um inacreditavelmente contido Peninha (Eduardo Bueno) e até o Ricardo Lombardi, nosso alfarrabista, que devia ter uns 16 anos à época.
A estética dos filminhos, de 1’30”, que serviam como teaser do jornal do dia seguinte e passavam na Globo na undécima hora, tentava emular o “nervosismo” da redação, do jornalismo. Augusto Nunes, num agrado às massas, fazia rara aparição fora de seu aquário em meio à balbúrdia de seus comandados, encostado numa estação coletiva com quatro computadores; uma panorâmica começava com um sujeito fumando; um zoom abrupto, como aqueles que Tarantino recuperou em Kill Bill, aproximava um editor ou um repórter que exibia um dos milhares de suplementos que o jornal trazia à época como o “Cola”, e o “Jardins”.
E um clássico daqueles filmetes: um jornalista começava sua locução, mas a câmera só o iria encontrar uns 5 segundos depois, ocupada que estava em mostrar colegas de perfil, sempre atentos a seus PCs, quase sem respirar para não atrapalhar a composição.
A densidade demográfica era imensa, o dobro da atual. Hoje há menos de 500 jornalistas no prédio.
O mais curioso é ter encontrado, a partir desses filmes, outros ainda mais velhos, de 1986, que passavam no intervalo do SPTV 3ª edição – será que o Tramontina estava por ali? – , mas que são exatamente iguais, tirante a pobreza tecnológica da época: as máquinas deviam ser Remington, a câmera balançava uma barbaridade e as garotas usavam a permanente da Bette Midler.
Abaixo:
Caro Paulo, fiquei muito feliz de você divulgar esse material do “Estadão no Ar”, que eu guardei por anos a fio em fitas cassete e, depois de converter em DVD, coloquei no YouTube por meio do canal que lá tenho.
Além dessas quase duas horas de material, eu juntara outras duas horas em fitas VHS, mas infelizmente houve problemas com a digitalização e perdi esse material precioso.
Um abraço do
Ricardo Setti