“Aquela jornalista de boteco ficou no passado”

Julia Zanolli

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Entrevistamos Giselli Souza, do Divas que Correm, blog voltado para corredoras amadoras. Além da semelhança no nome, ela é também uma colega de profissão. Com passagens pelas redações da TV Bandeirantes, Folha de S.Paulo e R7.com, hoje Giselli trabalha como analista de comunicação, faz MBA em Marketing Digital e treina para sua quarta maratona. 

Com a corrida, perdeu 14 quilos, abandonou de vez o cigarro e de quebra ainda deixou para trás os ansiolíticos e antidepressivos. Abaixo, ela fala sobre sua trajetória no esporte e garante: “as mulheres são mais resistentes e determinadas do que os homens”. 

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Jornalistas que Correm: Você acha que no universo da corrida existe preconceito contra as mulheres?
Giselli Souza: Já melhorou muito, mas ainda existe. Principalmente quando estamos lado a lado com homens em treinos e provas. Apesar das mulheres já terem mostrado muito da sua força, eles  ainda ficam meio surpresos com a nossa capacidade de transpor os limites físicos do esporte.

JQC: O que você acha de provas exclusivas para mulheres?
GS: Acho uma iniciativa muito legal, pois muitas atletas começam nestas provas femininas. Elas costumam se sentir mais à vontade, convidam as amigas e correm “sozinhas” – sem nenhum amigo, marido ou namorado por perto. Vejo como uma porta de entrada e uma oportunidade para praticar o esporte longe da “ditadura da beleza” das academias.

JQC: Na sua opinião, o que diferencia as mulheres dos homens nesse esporte?
GS: As mulheres são mais resistentes e determinadas. Lutamos diariamente contra a desigualdade de gênero na nossa vida profissional e ainda sofremos com a ditadura da beleza. Na corrida, podemos ser quem nós realmente somos, independentemente da idade, corpo e status social. A corrida é democrática e muitas vezes funciona como uma válvula de escape em meio a tantas pressões sociais. Paralelamente, a corrida ajuda também a recuperar a autoestima, infelizmente um problema frequente entre as mulheres.

JQC: Você já fez três maratonas, uma prova em que as mulheres (infelizmente) costumam ser minoria. Qual é seu conselho para as meninas que querem enfrentar esse desafio?
GS: Estou indo para a quarta, agora em outubro, em Buenos Aires. Para chegar aos 42 K, é preciso respeitar o seu corpo e, principalmente, o esporte. Corro desde 2008 e só depois de cinco anos fiz minha primeira maratona.  Faço isso para preservar o meu corpo e também para conciliar a minha vida profissional/pessoal com o treinamento. A corrida faz parte da minha vida, mas não é o meu eixo central.

Divas que Correm

JQC: Como concilia a vida profissional com a rotina de treinos?
GS: Minha rotina é dura, trabalho muito e, para conciliar tudo, acordo todos os dias às 5h30 para treinar. Nos dias em que tenho reunião ou eventos no trabalho, levanto ainda mais cedo para dar conta da planilha. Por outro lado, nos dias que estou muito cansada, faço “off forçado”, porque aprendi a respeitar meu corpo e hoje não treino mais sem estar alimentada corretamente e com o sono em dia.
Para conciliar tudo isso, a minha recomendação é sempre ter um objetivo legal. No meu caso, são as maratonas. Curto mais o período de treinamento que o próprio dia da prova – quando geralmente fico bem nervosa e ansiosa. Na verdade, eu não olho mais como “treinamento”, mas sim como um “estilo de vida” que me dá o gás necessário para trabalhar, estudar e viver melhor.

JQC: Como foi o seu processo de emagrecimento? De que forma a corrida te ajudou?
GS: Fiz a reeducação alimentar por 14 meses, com ajuda de uma nutricionista esportiva. Emagreci um quilo por mês neste período e hoje busco uma manutenção do peso e também redução de gordura corporal. A corrida me ajudou neste processo, pois eu associei a dieta a um ritmo mais intenso de treinamento para a minha primeira maratona. Desta forma, o emagrecimento ocorreu de uma forma mais natural e não tão chata.

 
JQC: Quando você decidiu que era hora de largar de vez o cigarro?
GS: Depois de seis meses correndo, decidi parar de fumar porque o cigarro havia perdido o sentido na minha vida. Depois de um ano, abandonei os remédios (antidepressivos e ansiolíticos) que eu tomava há anos. A corrida conseguiu preencher, aos poucos, a minha vida com uma força inesgotável de querer viver melhor para mim e por mim. Um ano depois disso, voltei a praticar outros esportes que eu havia abandonado, como a bike e a natação. De repente, aquela jornalista de boteco ficou definitivamente no passado.

 

 

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Julia Zanolli

Julia Zanolli começou a correr em nome do bom jornalismo quando foi trabalhar na revista Runner’s World sem entender nada do assunto. A obrigação virou curtição, mesmo depois de sair da revista. Se livrou do carro para poder andar a pé pela cidade, mas é fã assumida de esteira. Prefere falar de comida do que de nutrição e acha que ter tempo é muito melhor do que matá-lo.

Um Comentários

  1. Avatar
    Silvana

    Sem perceber, a Giselli conseguiu nos mostrar que é possível sim mudar para melhor!
    Claro que correr exige um pouco de sacrifício, ajeitar a rotina, mas não é um estilo de vida sobrenatural. Dá pra correr. Basta querer e amar muito as coisas maravilhosas que a corrida nos trás!

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