Corredores x carros, bikes x motos

Paulo Vieira

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O abraço coletivo sábado na Praça do Relógio, tributo a Alvaro Teno, foi singelo e modesto, contou com não mais de 300 corredores. Um pai-nosso foi rezado e os corredores foram convidados a envolver a viúva e os três filhos, que não falaram durante o ato.

O que boa parte das das pessoas ali reunidas talvez não soubesse é que outro senhor havia perdido a vida algumas horas antes, ao se dirigir ao parque Ibirapuera, onde costumava caminhar.

O corpo do funileiro Glemecir Milsoni, 72 anos, qual o operário de “Construção”, ficou na contra-mão da República do Líbano atrapalhando o tráfego. Supõe-se que seu homicida disputasse um racha com outro comparsa. Os criminosos não pararam para socorrer a vítima.

O comportamento dos homicidas é estarrecedor, mas também estarrecedor é baixar a cabeça e considerar o fato como mais uma ocorrência.

Tom Wolfe talvez fizesse outro best seller a partir dessa ocorrência.

Mas nem era deste sábado que queria falar. A notícia é um pouco mais velha, mas talvez não tenha recebido a devida atenção. Levantamento feito pelos repórteres Edison Veiga e Bruno Ribeiro, do Estadão, no dia 12 de agosto, das 17h às 19h, mostrou o seguinte uso das novíssimas ciclovias do centro de São Paulo (no quarteirão da avenida São João entre a General Osório e a Duque de Caxias):

– 43 bicicletas
– 158 motos
– 16 carros
– 8 cavalos
– 1 caminhãozinho VUC (Veículo Urbano de Carga)

Procurado pela reportagem, o presidente do sindicato dos Motoboys de São Paulo (SindimotoSP), Gilberto Almeida do Santos, disse a seguinte pérola:
“O trânsito é como o fluxo da água. Flui pelos espaços em que dá. Aquela ciclovia é um espaço que ninguém usa.”

Na quarta passada, ao inaugurar a ciclopassarela que liga o Parque do Povo à ciclovia da Marginal do Rio Pinheiros, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, quase foi proibido de pedalar na ciclopassarela. Passada a perplexidade e o deleite com a piada involuntária, disse uma frase irretocável ao site Vai de Bike:

“As pessoas têm que compreender que nós não estamos inventando nada aqui, nós estamos atrasados.”

Veja abaixo a reportagem que o JQC fez no sábado, 23, na Usp, durante a manifestação em homenagem a Alvaro Teno.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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