Cambury e Camburyzinho/Foto: Paulo Vieira
O passatão preto ano 79, por aí, não impressionava apenas pelo porte e pela cor. O cabeludo que o dirigia também fazia boa figura. Mas era um detalhe no painel que chamava atenção. No canto direito, acima do porta-luvas, um adesivo com letras bastante efusivas dava o recado: NÃO FUME.
Embora a mensagem fosse bastante clara, ela não estava isenta de interpretações dúbias. O motorista, que hoje perdeu o cabelo e vive em Salvador (com a cabeça no Oriente Médio), por exemplo, não se via ao alcance da proibição. Alguns de seus convidados também não. A “sharia”, contudo, caía sem atenuantes sobre a tabagista energúmena da namorada.
Você pode ter gastado um interminável minuto para ler este nariz-de-cera, o nome técnico dessas introduções de textos jornalísticos que não entram nunca no tema. Mas essa imagem do Passatão do André, muito mais rica em detalhes e cor, deve ter ocupado não mais que 5 segundos da minha mente anteontem, quando peguei a estrada para vir a Cambury, no Litoral Norte de São Paulo, a soldo de uma revista que, pode-se dizer, voa bem alta.
(De qualquer forma, se você entrou aqui procurando jornalismo, já viu isso?)
Novamente me vi na linda Rio-Santos, habitat do Passatão naqueles anos de faculdade. Há tempos não vou a Guaecá, nosso destino à época, e há tempos não vinha a Cambury, bem mais próxima mas igualmente bacana, a despeito dos preços inflados de seus restaurantes e pousadas.
Mas não é pelos mil ou mil e quinhentos reais que a gente não desce mais. As coisas parecem que ficaram mais difíceis. O trânsito, claro, mas também a disposição. O fim de semana sempre parece muito curto, então que se fique de uma vez em São Paulo.
Mas o tempo na praia, e nesses praias espetaculares daqui, sempre rende mais. Mesmo trabalhando como uma negra, ontem deu para curtir bem duas cachoeiras (sim, fazia parte do trabalho) no Sertão do Cacau, almoçar um bom PF e correr ao crepúsculo.
Terminada a coleta de personagens do dia nas areias de Camburyzinho, saí descalço em direção a Cambury, Baleia e Sahy. Uma locação de corrida que não é qualquer dia que se tem, especialmente quando seu carro não é um Passat preto.
No trajeto de 1 hora de ida-e-volta, pouquíssima gente, alguns caiçaras jogando bola, duas duplas de fut-vôlei mostrando toda a ginga paulista e um bom bocado de pedras, pois precisei sair da praia diversas vezes e pegar estradas. Como estava descalço, o bloquete quente que era uma desgraça deixou marcas nos meus dedos menores.
Mas a corrida aqui é plus a mais. Aproveita que hoje é sexta, por aqui ainda não tem muita gente, e considera pegar a estrada. O calor tá infernal em São Paulo e aqui não é diferente, mas se a água do mar em Cambury está também digna de Caldas Novas, tem sempre uma linda cachoeira por perto para você esfriar a cabeça.