Murakami não estava em Asakusa (sequência deste post publicado em 14.1.2014)
Tóquio pode ser um lugar pródigo para caçar escritores reclusos em parques ou outros logradouros onde porventura possam correr. Mas para achar esse tal parque você primeiro terá de se entender com a cidade.
E com suas linhas de metrô. Há um emaranhado delas, com todas as cores do catálogo Pantone, da qual a mais importante é a célebre e circular JR Yamanote Line. O preço a pagar é variável, definido pela estação de desembarque, mas como todas as instruções das máquinas de tíquetes são em inglês (e às vezes até português) e as estações e os carros têm sinalização e avisos sonoros em inglês, o metrô é café pequeno perto dos problemas que o circundam.
O desafio começa quando deixamos as estações. Por razões históricas que remontam à Segunda Guerra, não há endereços na capital japonesa tal como a humanidade aprendeu a conhecê-los: nome da rua, número etc.
Se você tem um cartão de visita e dinheiro, pode tentar ir de táxi; mas quando está com orçamento de editora em crise, melhor acostumar-se com o metrô e as caminhadas.
Diante da impossibilidade de chegar a alguns destinos, eu tive de apertar o “abort” em algumas missões. Como conhecer a loja da Mizuno, que eu pretendia tornar objeto de um post, por exemplo.
Melhor sorte tive ao tentar almoçar no Narisawa, o melhor restaurante da Ásia segundo o ranking da “Restaurant”/San Pellegrino. Mas antes de chegar lá eu, qual Paulo Coelho, sentei à beira do rio e chorei.
Em vez de pegar a linha Ginza (da cor amarelo-ovo subtom 43) e descer em Aoyama-Itchome, desci em Ginza-Itchome, cinco estações antes, e ali esperei uma boa cara pelo meu convidado, o jornalista nipo-brasileiro Ewerthon Tobace.
Precisei entrar numa joalheria, pedir para consultar a internet e finalmente, ajudado pela simpática recepcionista, descobrir meu ridículo erro. Nessa hora não pude deixar de me sentir como o alentejano da anedota, a vítima preferencial da piada de português quando contada por portugueses.
O gajo faz um enorme esforço mental para se lembrar de que no Porto, onde ele está agora, se quiser pedir um cafezinho, terá de dizer “Um cibalino, sifazfavoire”.
Depois de memorizar a expressão por horas (“um cibalino, um cibalino, um cibalino”) finalmente se infla e solicita:
– Um cibalino, sifazfavoire!
– Perdão?
– Um cibalino!
– Senhore, isto aqui é um banco.
Enquanto isso, o nome Murakami ia desbotando aos poucos na minha mente.
Nessas horas é sempre bom contar com o adágio de Hemingway: “O homem pode ser destruído, mas não derrotado”.
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