Domingo, 6 da manhã, 15 graus e chuva torrencial lá fora. É claro que o meu primeiro impulso é ignorar o despertador do celular e continuar enrolada no edredom, abraçada no marido, ouvindo as gostas batendo na janela, numa sinfonia perfeita para o sono. Mas eu decido levantar e encarar a minha primeira prova de rua, faça chuva ou temporal. Afinal, o convite da Unilever, que patrocina a corrida, veio em um bom momento, pouco antes da minha viagem de férias e a tempo de testar meu preparo físico.
As cachorras me ignoram e continuam dormindo na frente do aquecedor. Tomo o café da manhã sozinha, como um docinho de arroz orgânico e uma banana e tomo muita água. Coloco minha calça e blusa fininhas, que mantêm o calor do corpo sem me super aquecer, visto, pela primeira vez, um “abadá de corrida”, no caso, do Circuito das Estações Adidas, coloco meu tênis Nike, lentes de contato e prendo o cabelo. Estou pronta, com os olhos querendo fechar, mas curiosa pelo que me espera.
A caminho do Pacaembu, encontro vários outros corredores com suas camisetas verde-vagalume (e isso é um elogio, gosto muito da cor). Em frente ao estádio, muitas tendas de empresas, de equipes de corrida, da organização do evento e de revista especializada, com frutas, água, massagem, guarda-volumes… É tanta informação que, confesso, fico um pouco confusa no início, mas logo encontro o local onde deveria pegar meu chip e guardar as minhas poucas coisas.
Vou para a largada, quer dizer, para o meio do grande número de pessoas que já esperava a largada. Decido correr sem fones de ouvido, para prestar mais atenção nos outros corredores e até no meu corpo. Não me arrependo, ouvir as histórias alheias, as palavras de incentivos, as passadas… é muito animador e divertido. Atravesso a linha inicial 2 minutos depois da largada, isso porque, é preciso respeitar o ritmo do outro, mesmo que você queira disparar com suas pernas longas. “Trotando, trotando”, grita um locutor, como se fosse possível outra opção.
Faço o primeiro quilômetro correndo direto, ando um pouquinho, volto a correr, ando um pouquinho, corro mais… E assim vou levando a prova, até chegar na única subida do trajeto, que vai até o comecinho do minhocão e volta para o Pacaembu. Não chove, mas venta, felizmente, mantendo o meu corpo em uma boa temperatura. Na subida eu só ando, confesso, mas na descida, corro como ninguém. E continuo assim até o final, aos 39 minutos de prova.
Descontando os 2 minutos que demorei para chegar até a largada, faço os 5K em 37 minutos, meu melhor tempo – se comparado com o que eu fazia na esteira e parque até então. Chego eufórica, suada, vermelhinha, descabelada e muito feliz. Tão feliz, que estava disposta a continua andando por aí, só para liberar mais e mais serotonina. Pego minha medalha, peço para um estranho tirar uma foto para eu gravar aquele momento e sigo rumo ao Sumaré.
Ando mais 3K, vendo a cidade acordar, nublada e linda, quase sem carros na rua, quase sem barulho, mas com ritmo, o meu ritmo ditado por aquele bem-estar todo. Marco de encontrar meu marido num café que vende bolo de pão de mel. A escolha não foi aleatória, a primeira vez em que corri numa prova foi na quarta ou quinta-série, pelos seis pães de mel que eu ganharia caso conquistasse uma medalha. Foram 400 metros, uma medalha de bronze e uma doce semana na Escola Adventista de Vila Nova Cachoeirinha.
Chego cansada ao café, mas ainda elétrica, encontro meu marido com cara de sono, poucas palavras e muito orgulho. Me dou uma fatia generosa de bolo, que como lembrando da menina que corria por doces e hoje corre para se sentir viva. De repente, percebo que essa coisa de corrida vicia, com doses cavalares de hormônios da felicidade. E superação, e auto-conhecimento, e alegria por ir além. Que venham muitas outras provas de rua… : )
(Obrigada, Paulo, pelo incentivo e inspiração, Unilever, pelo convite, e vocês, pela companhia!)
Que fofa =) Quem sabe agora eu tbm me animo? Beijo, Tali