Na cabeça

Paulo Vieira

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Imagine a seguinte situação: você passa duas horas absolutamente sozinho correndo. O que passa pela sua cabeça? Bem, pela minha nada de muito grandioso. Tenho muito interesse nesse assunto, e acho que meus colegas na Runners’ World Brasil deveriam fazer uma matéria sobre isso.

É preciso, a meu ver, que você corra junto com um daqueles taquígrafos do Senado, ou, vem-me à cabeça agora, um gravador, para registrar as ideias. Eu nunca fui capaz de lembrar tudo o que penso nesse tempo que estou correndo. Sei, no entanto, que não são coisas que mudariam o mundo, infelizmente.

GINÁSTICA PARA A CABEÇA

COM A CABEÇA DE MARINA ABRAMOVIC

É A CABEÇA, ESTÚPIDO

Um dos pensamentos mais constantes tem a ver com o percurso. Quanto já terei corrido? Fico fazendo cálculos, lá pelos 45 minutos, de quanto isso significaria em distância. Provavelmente uns 8km e algo. Quando chega a marca da 1h20, costumo traduzir por 15K.

Corro numa velocidade constante, é bem difícil pra mim acelerar o ritmo ou trotar, como fazem os caras que têm consultores técnicos e planilhas, por isso essa conta não deveria ser muito difícil. Uso a constante de 5’30” para cada quilômetro, mas talvez esse número seja conservador.

Seja como for, não construo versos alexandrinos nem monto estratégias mirabolantes para aumentar a circulação da revista enquanto venço quadras e cascalhos. Em geral, a cabeça anda vazia, quase autônoma, mais ou menos como as pernas. Como se, em algum momento eu já não pudesse, ou não tivesse qualquer motivo para parar. Puro satori, puro zen-budismo. Como disse, ou se não disse, pensou Lao-Tsé: “Fiquem vazios para permanecerem cheios.”

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

3 Comentários

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    Helena Clebsch Vidal

    Paulo, muito bom o texto. Minhas reflexões durante as passadas variam muito, mas na maior parte do tempo é controlando o ritmo e a respiração. Já me peguei pensando no almoço e até na pauta de trabalho.
    Parabéns pelo site.
    Abraço e bons km’s!
    Helena
    correndodebemcomavida.blogspot.com
    @Correndodebem

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  2. Avatar
    thiago blum

    Pois é Paulo, minha corrida é bem mais conservadora, e mais, na esteira… normalmente de uma hora, feita com intervalos de caminhada, pois o joelhinho já não ajuda como antes. Por isso, os pensamentos são recorrentes, quase óbvios: quanto falta pra acabar ? quanto ainda aguento ? será que hoje chego nos 10k ?
    Quem sabe um dia não alcanço os 15, ou talvez duas horas ?

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    • paulo vieira
      paulo vieira

      Chega junto um dia no meu percurso e a gente faz o tempo passar rapidinho, Tiago. Assunto não vai faltar! Abs.

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