No Oriente Médio

Paulo Vieira

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A primeira dentição deste pasquim eletrônico contou com a contribuição maior da jornalista Talita Ribeiro, minha jovem colega na redação da revista Viagem e Turismo, desde sempre antenada com o mundo digital que atropelaria o jornalismo velha-escola.

São dela alguns dos mais lidos posts de nossa curta história, como os linkados abaixo.

ESCAPEI CORRENDO DE UM SEQUESTRO NO CHILE

NA NOVA ZELÂNDIA

O QUE SEU DNA REVELA SOBRE VOCÊ

Hoje envolvida em múltiplas atividades, como a direção do site VIAGEMEVOO, Talita esteve em 2015 por um mês na Jordânia, Turquia e Curdistão para produzir um livro-reportagem, o Turismo de Empatia: refugiados no Oriente Médio, que ela viabiliza com financiamento coletivo pela plataforma Catarse.

A ideia da viagem, bancada às próprias custas, surgiu depois de ver uma foto de uma refugiada síria, que, ao chegar à fronteira do Curdistão, tirou seu traje escuro e revelou outro, coloridíssimo, por baixo.

Talita à caráter no Curdistão
Talita à caráter no Curdistão

Talita visitou campos de refugiados, viu as dificuldades de homens, mulheres e crianças expatriados pela mão pesada do Estado Islâmico e da guerra civil síria e decidiu que a receita gerada por seu Turismo de Empatia será inteiramente destinada aos refugiados.

Se quiser ajudar, entre até 6 de fevereiro neste LINK . Até esta quarta, 13 de janeiro, o projeto já havia arrecadado dois terços dos R$ 30 mil desejados.

Ao programa Encontro, da TV Globo, disse que no Oriente Médio viu multidões de crianças sem brinquedo algum. Ela, que é da Vila Brasilândia, bairro pobre da ZN de São Paulo, disse que já viu muitos meninos brincando com carrinhos sem roda, mas nos campos nem carrinhos havia.

Ela dá duas palhinhas do livro, que também terá dicas de viagem, aos amáveis leitores do JQC. A primeira em vídeo, a segunda em texto, logo abaixo.

A sobrevivente

Com 12 anos, ela já viveu um ano e três meses no inferno, em territórios ocupados pelo ISIS no Iraque e na Síria. Separada do pai e dos irmãos, que sumiram após a invasão dos terroristas, precisou sobreviver três dias sozinha, na casa dos inimigos, antes de ser resgatada. Não tive coragem de perguntar sobre esse período, ao ver o terror em seu rosto e os olhos cheios de lágrimas.

A pequena yazidi quer ser médica, mas não vai à escola há quase dois anos, por conta da guerra. Tem um corpo miúdo, voz fina, olhar profundo e um sorriso que resiste aos dias sem perspectivas. Ela nos serve o chá adocicado, senta-se em um canto da sala cheia de tapetes e cobertores, observa os adultos falarem, se perde em pensamentos, cutuca as unhas e não desgruda de um celular.

Olhando assim, parece mais uma menina, crescendo em um país partido pelo ódio, mas ela já teve um preço, US$ 4 000, pagos por uma organização de índole duvidosa.

Meu coração se enche de tristeza e raiva ao ver a lista, com o nome e valor das mulheres e meninas resgatadas. Respiro fundo, a vejo arrumando o cabelo curtinho atrás da orelha, quero abraçá-la, dizer que ela é muito valiosa, mas me contento em pegar suas mãos delicadas e segurá-las com força.

Tento me convencer que ela nunca mais vai partir, mesmo sabendo que o Estado Islâmico está a apenas 50 quilômetros dali.

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Quem colaborar com o financiamento poderá ter como recompensas o livro, fotos e camisetas de um dos projetos, variando de acordo com o valor, que pode ser a partir de R$ 10.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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