Pipoca: o contra-ataque

Paulo Vieira

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O POST DE MAIOR REPERCUSSÃO da história deste pasquim, se considerado o critério de publicação de comentários na nossa limpinha e normalmente pacífica caixa, veio a lume há cerca de nove meses.

Chamava-se “Pipoca”. Nele, conta-se como o editor deste tabloide, me-myself, moi-même, euzinho da Silva, havia corrido uma meia maratona da Yescom, em São Paulo, na pipoca.

Na proporção, nove a cada dez comentários, talvez mais, me detonavam. Xingamento foi mato. Por uns instantes voltei a 2005, quando escrevia artigos esparsos sobre futebol no site da Placar – ter pedido “Fora, Parreira” naquele ano, quando ele ganhava tudo com a Seleção, gerou, para dizer o mínimo, bastante celeuma.

Mas retornemos da digressão: nas duas “suítes” – jargão para continuação de uma reportagem ao longo dos dias – do “Pipoca”, a participação dos leitores do JQC diminuiu dramaticamente.

Pouquíssimas pessoas se dignaram a dizer o que acharam das entrevistas com o pessoal da própria Yescom – que organizou a corrida – e com o Carlos Galvão, na época ainda cuidando do circuito de corridas Track & Field pela Latin Sports, sobre o mesmo tema.

Para quem não viu a treta, ou talvez queira revê-la, segue o caminho das pedras.

PIPOCA

PIPOCA, A VOZ DA YESCOM

PIPOCA, A VOZ DO ORGANIZADOR

Voltei a isso hoje pois havia sugerido ao Daniel Krutman, colunista de marketing e negócios da corrida do JQC, que escrevesse sobre o tema. Daniel sempre esteve do lado da “vítima”, já que trabalhou em organização de corridas e hoje toca um aplicativo de inscrições de provas pelo Brasil.

Evoé.

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EXISTEM VÁRIOS TIPOS DE PIPOQUEIROS por aí. Os ocasionais, clientes que decidem um dia ter uma experiência pipocando; e seus acompanhantes, treinadores, maridos.  

Alguns destes – e  sei que muitos aqui dirão que isso é sacrilégio – são até toleráveis! Mas os demais são enganadores de marca maior. 

Durante os últimos anos vivemos um crescimento formidável do mercado de corridas e com isso também uma certa (e ainda incipiente) profissionalização dos produtores. Surgiram sistemas mais rígidos de acesso à pista, estafe para controle de entrada e seguranças para inibir os intrusos.

Entretanto, este maior controle gerou um efeito colateral: uma onda de estelionato nas corridas.

Práticas para enganar a organização e assim passar pelos postos de controle de medalhas e hidratação ganharam método. Veja.

Falsificação de número de peito

Com uma impressão do número falso em sulfite colorido, o pipoca se mistura à multidão. Em geral, um sujeito faz a inscrição, imprime dezenas de cópias do número de peito e as entrega aos amigos.

Em poucos casos a impressão é em papel especial, reforçado, mas a maior parte das reproduções é tosca. Pode dar certo.

Uma inscrição para três pessoas

Esta “técnica” distribui os itens do kit corredor: o inscrito vai com o número de peito, seu comparsa com o chip (quando esses produtos estão separados) e o terceiro da gangue com a camiseta do evento.

O último malandrão sempre argumenta que “esqueceu” o número de peito. Não cola.

O repassador de número de peito

Método mais comum em provas quando feitas por duplas: a manobra consiste em repassar o número de peito durante a corrida. Quem termina na frente volta do pórtico de chegada pelo mesmo trajeto, encontra seu parceiro e faz a desova.

O número de peito eterno

Aqui um mesmo número de peito é utilizado diversas vezes ao longo de meses ou anos. Quem gosta de correr uma determinada prova pode acabar fazendo essa mesma prova nos anos seguintes com sua “relíquia”.  

A confissão

Confesso: tive receio de escrever sobre este tema para não dar ideia. Mas acho útil que gente do bem conheça as práticas obscuras enfrentadas pelo mercado.

Os organizadores vêm tomando medidas, como já dito, mas segue inaceitável ter de estabelecer um relacionamento com o corredor na base da desconfiança.

Triste realidade.

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

6 Comentários

  1. Avatar
    @JoseAdolfo

    As técnicas dos pipoqueiros estão ficando elaboradas kkk
    Acredito que o melhor jeito de evitar a pipoca é preço justo, desconto e novidades para fidelizar veteranos, experiência para encantar novatos e por fim abrir o primeiro lote de inscrição para a proxima assim que fechar a da atual, assim como é o caso de sucesso na Meia do Rio Caixa.

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    Juliano

    isso não é pipoca , pipoca é só ir correr sem a inscrição e pronto, isso chama-se trapaceiros . Eu mesmo corro sem me inscrever em algumas provas , sou pipoqueiro SIM , agora nao sou trapaceiro , pode por inscrição barata , pode por o q for , os trapaceiros sempre vão existir.

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  3. Avatar
    lidianne andrade

    Pipoca é um tema tão compexo quanto corrida ao valor de R$ 200.
    Infelizmente corrida de rua se tornou um mercado lucrativo, mas nem toda cidade exige a pipoca para poder correr. Ha sempre eventos menores com medalha e corridas sociais e gratuitas como oportunidades.
    A medalha tambem nao é o essencial da corrida.

    Mas tem a categoria pipoca comportada . Tem uns que levam ate sua propria agua e nao atrapalham em nada. Um amigo anda com seu cinto com garrafas sem problemas.

    Organizei um evento de corrida e vi o trabalho que dá para corredores sem gastos consumirem sem qualquer pudor. E a tristeza de quem correu e nao recebeu medalha por conta dos gastos.

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    Adriana Bacic

    O problema é que a corrida é um esporte democrático, mas as inscrições nas corridas de rua são apenas para uma classe privilegiada. O valor das corridas está um absurdo. Neste ano, por exemplo, não tive bolso para participar de nenhuma.

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    Marco Antônio Carlos Eduardo Miranda de Souza Silva Bezerra Coelho

    A corrida de rua é democrática, mas as provas estão ficando cada vez mais elitista. O que não justifica este comportamento criminoso.

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    Wellington

    Caramba, li agora todas as matérias e comentários e acho tanta gente com uma limitação quanto a enter e se colocar no lugar do outro e entender como o mundo pode ser melhor.

    Pipoca é um termo que vem do carnaval de Salvador, as pessoas que não tem grana para o abadá e vão pulando ao lado do bloco desviando dos obstáculos.

    Frequento corridas de rua há mais de 8 anos. 90% pagas. As que fui como pipoca era porque estava acompanhando alguém que estava correndo, em outra cidade, para dar uma força, não faço meu tempo, e desde então comecei a perceber a figura do pipoca.

    Esse número que as produtoras colocam, não é o que tenho percebido vejo um a cada 20, se tanto. Normalmente eles não atrapalham, fazem o tempo que quere. Chamar um cara de bandido porque tomou meia dúzia de copinho de água é igual bater panela para o Temer aprovar medidas para acabar com os mais pobres. Não é isso que vai quebrar o organizador ou atrapalhar o seu desempenho. Pior é a turma da firma que larga lá na frente e caminham lado-a-lado ocupando as três faixas da via (ah, mas eles pagaram).

    Apelar para as mutretas de inscrição acho complicado, é igual falsificar carteirinha de estudante e acho que isso não é pipoca.

    Pipoca não é crime. Furar festa de casamento também não.

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