Performance, performance, performance

Paulo Vieira

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O Jornalistas que Correm na New Balance Excellent Series, em São Paulo
Loucos por performance

Quais são seus objetivos? Na vida, digamos? Você os tem bem definidos? Consegue responder assim, de bate-pronto, com consistência? E na corrida? Segue judiciosamente suas planilhas de preparação para aquela maratona, para aquela meia, aqueles 10K, todas essas provas marcadas com enorme antecedência?

Outro dia a Gabriele, professora da 5 Ways, a assessoria que eu contratei em setembro ou outubro e para a qual estou devendo um belo pixo, fez exatamente a pergunta da primeira frase: “Paulo, quais são seus objetivos?”

Não era a primeira vez que ela fazia essa pergunta. Talvez a repetisse porque não havia assimilado a resposta antes.

Que era: “Não sei”.

“Não sei? Como não sei?”, ela poderia ter replicado lá atrás. Mas diante do seu silêncio cortês, aduzi alguma bobagem do tipo: “Sim, uma maratona está nos planos, mas não sei quando nem onde.”

Não queria estar em seu lugar. O que fazer com um sujeito que só quer rodar, rodar e rodar mais um pouco?

Acho que ela decidiu começar todo o trabalho de novo, pois sugeriu que eu fizesse outra vez o teste de limiar de 10K, aquele que eu já havia feito para o professor que a antecedeu, o Diego – tema deste post aqui.

Bem, agora que os heróis desta trama já foram devidamente caracterizados, a narrativa evolui para a manjada situação em que a expectativa do leitor é revertida. O sujeito que não tem objetivos, ou ao menos não os consegue enxergar, decide correr uma prova de performance, prova dessas contra o relógio – os competidores inclusive tivemos de apresentar uma “nota de corte” (a minha: 25K em 2:06′) para poder participar.

A prova é neste domingo, 8 de dezembro, e se chama New Balance Excellent Series. Começa e termina no Jóquei, em São Paulo, e é patrocinada, evidentemente, pela marca de tênis, que assim associa seu produto ao conceito de performance.

Embora tenha feito spinning ontem e corrido nas areias cearenses por quase uma hora e meia segunda-feira cedo, minha preparação de verdade começou hoje depois do almoço.

Foi quando eu peguei o trem da CPTM e fui à loja da New Balance, inaugurada semana passada num shopping no qual eu não punha os pés havia uns 20 anos. Meu kit de prova me esperava lá.

Logo o simpático vendedor Felipe me disse que os corredores da prova de domingo tínhamos direito a um desconto de 20% nos tênis da NB.

Aproveitei então para dar uma olhada nos minimalistas.

Calcei um levíssimo, uma sapatilha de plástico ou material que assim me pareceu. Sobre os 349 paus incidiriam os 20%, e aquilo soou como uma barbada – se os sumários biquínis brasileiros são caríssimos, um tênis gringo feito com quase nenhum material também devia ser, pensei.

E seu solado é Vibram, o mesmo do famoso pioneiro Five Fingers, solado que o Felipe disse ser o melhor do mundo.

Como o tênis já estava no pé, fiquei bem tentado a levá-lo, mas minha proverbial mão fechada encerrou a negociação e deixou o Felipe um pouco decepcionado.

Devo fazer a prova com meu Merrell velejador, irmão do Five Fingers e com o mesmo solado Vibram citado. Ele tem servido para corrida e para um monte de outras coisas – cruzei com muita firmeza um rio com ele, no México, há menos de um mês.

Bom também foi estar com ele semana passada no MAC, o Museu de Arte Contemporânea, no antigo prédio do Detran. Acho que nunca visitei uma exposição ou um acervo de um museu tão confortavelmente.

E me sinto um idiota por não ter ido com ele ao show de 3h30 do Bruce Springsteen.

Depois de tantas circunvoluções, a moral do post: achei um objetivo. Daqueles bem objetivos, aliás: terminar a prova abaixo dos 1:10’.

E para isso terei de correr abaixo do 5’/km.

Um pace meio estúpido para toda a minha suposta ideologia “Zen e a Arte da Manutenção do Prazer da Corrida”.

Sem dizer que a cordialidade comum das provas de resistência dará lugar no domingo, imagino, a um espírito competitivo, a um espírito de “performance”.

E é bom que eu “performe” mesmo, já que vou ter de abrir mão das biritas da festa de sábado, da Rachel, sempre superservida.

Diante da morte do Mandela, que acabo de saber, sujeito que, passados 27 anos numa prisão ainda conseguiu preservar um espírito de conciliação em nome de um país melhor, creio que preciso melhorar meus objetivos.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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