Marquei com ele às 9 da manhã, na Aranha. A aranha de Louise Bourgeois, do MAM, no Parque do Ibirapuera. Vindo de bicicleta do meu treino no Parque Villa-Lobos – hoje um incômodo teste de limiar, corrida de 10K para ser feita em pace insano, uns 4’30” por quilômetro, mas interrompida no 7K porque o cronômetro do celular felizmente desligou (ontem havia derrubado umas raicillas) -, cheguei 20’ atrasado.
Mas ele também atrasou, e quando comecei a procurá-lo pelo parque, logo o encontrei.
Marcus Andrey, o Mandrey, de que falei duas vezes aqui, o fundador da Dieta da Rede Social, 40 quilos perdidos basicamente à base de caminhadas, veio a São Paulo, e voluntariei-me para andar com ele no Ibirapuera.
Seu pace de caminhada é rápido, mas vai diminuindo à medida que os minutos passam e a conversa avança. Ficamos 1:30’ ou 1:40’ falando de Recife e São Paulo, famílias, empregos, futuro. De minha parte, tentei ser um esforçado guia, mostrei o planetário, as tipuanas, os Niemeyer, sugeri que ele levasse os três filhos, a mulher e o sogro, que estão também em São Paulo, ao Museu do Futebol.
Depois de darmos duas voltas completas no parque, pegamos a passarela e fomos ao belíssimo MAC, no antigo prédio do Detran, mais um Niemeyer do complexo, este com sete andares, um mezanino e um prédio anexo totalmente dedicados agora à arte (não só) contemporânea. O Guggenheim de Nova York, creia, ficou no chinelo.
Pegamos o elevador naquele antigo símbolo canhestro da corrupção e dos péssimos costumes e fomos direto para o 8º andar, onde fica a enorme cobertura, ainda sem destino, do museu. Mandrey se espantou com o cenário que descortinávamos, o tamanho do Parque e a distância do Pico do Jaraguá, que avistamos dali.
Não houve em nenhum momento silêncios e inibições, e imagino que essa seja a tônica deste seu ano e mês de caminhadas. O que é curioso, uma vez que Mandrey costuma andar com pessoas que ele vê pela primeira vez na vida, como era o meu caso.
Mas o que quero dizer é que me surpreendi com esse hábito ordinaríssimo que é andar e conversar. É uma delícia passar uma ou duas horas fazendo isso. Suponho que seja mais terapêutico que correr, pelo menos se a corrida tiver a velocidade estúpida do meu treino de hoje no Villa-Lobos.
Imagino que os peripatéticos, os alunos do Liceu, a escola fundada por Aristóteles numa Atenas que já havia sucumbido a Filipe e depois a seu filho Alexandre, o Grande, gostavam das aulas que assistiam. Aristóteles não passou à posteridade por acaso, mas, mais do que o conteúdo, a forma de suas aulas era de causar inveja. O mestre passeava com a turma, caminhava com seus discípulos pelos arredores da escola enquanto discorria.
Se eu escrevesse uma “Ética a Nicômaco” pop, tentaria lê-lo à minha filha Vitória no Ibirapuera.
Talvez ela peça para levar o iPad.
Paulo, valeu muito pela companhia e pelas dicas culturais. É claro que aliviei pra você (no ritmo da caminhada) depois que soube do seu treino mais cedo. Kkkkkk. Abração, meu amigo!!!