HÁ MUITA GENTE QUE CONSIDERA o cascalho a sua própria sessão de psicanálise. Uma sessão meio mambembe, intuitiva, autoguiada, mas vá lá.
Pensamentos, ideias, críticas, eventuais mágoas e até algumas decisões vêm à tona quando você permite que sua mente fica longe de estímulos ou distrações.
E os 50 minutos, 1 hora, 1h30 de cascalho – não falo aqui de correr na esteira com uma TV ligada no Warner Channel na frente, claro – perfazem tempo generoso e privilegiado para você mergulhar lock, stock and barrels dentro da própria cabeça.
Nem sempre isso acaba bem.
E quando se está a quatro dias de uma eleição polarizada como a de domingo, é muito difícil não deixar a cuca se afundar na política.
Especialmente quando a cada dia as “instituições” produzem mais e mais barbaridades, para delírio de boa parcela da população.
Eis alguns exemplos recentes, numa seleção quase aleatória.
1) O juiz de Curitiba decide dar publicidade à delação do ex-ministro a seis dias das eleições. Detalhe: ele, o juiz, poderia ter feito isso há meses. Detalhe 2: a publicidade não ajuda em nada o processo, pelo contrário, dificulta a aquisição de provas, ao contrário do que ele argumenta.
Mas enfim, quem se importa com provas?
(O MP se importava, tanto que não se animou muito com o que ouviu.)
2) Juiz da mais alta Corte brasileira decide acolher instrumento inadequado juridicamente para impedir entrevista; caso entrevista já tenha sido feita, declara censura prévia, inibindo sua publicação. Presidente da Corte referenda a heterodoxia do colega.
3) Manifestação de temática feminista e claramente suprapartidária é tratada como tendo sido instrumentalizada pelo PT.
Sendo que no Largo da Batata, onde esteve Marina Silva, em São Paulo, havia em certas regiões mais bandeiras da chapa Ciro Gomes/Kátia Abreu do que vermelhas.
Acho datadíssimo o vocabulário de alguns amigos que gostam de usar expressões como “marcha da insensatez” e “lata do lixo da história”, mas tenho de admitir que o léxico passadista dos parças voltou a fazer sentido em… 2019.
*************************************
Se os exemplos citados acima te preocupam e você está a um passo da depressão, uma opção para relaxar a mente no cascalho é a pancadaria. Intervalados. Dar tiros.
CORRENDO COM ABRAMOVIC
DEVANEIOS DE UM CORREDOR SOLITÁRIO
ULYSSES GUIMARÃES NÃO FEZ A SELFIE
A MEDITAÇÃO ATIVA DE NUNO COBRA JR.
ALGO NÃO ACONTECEU NO MEU CORAÇÃO NA IPIRANGA COM A SÃO JOÃO
Pode parecer um paradoxo, mas o esforço cardiovascular máximo seguido de pequenos intervalos de descanso é uma boa maneira de fazer o cérebro ficar alerta e se concentrar unicamente no socorro ao corpo que se está a meter numa bela enrascada.
Dá para chamar isso de alienação ativa®.