O BRASIL SE DEBATE OLIMPÍADA APÓS OLIMPÍADA SOBRE as razões da parcimônia de vitórias de nossa delegação. Para estar entre os dez primeiros países no quadro de medalhas precisaremos remar bastante: no momento em que escrevo, teríamos de ganhar mais quatro ouros e torcer para um apagão geral com Coreia do Sul, Holanda e Hungria.
Mas há maneiras mais eficazes – e talvez menos olímpicas – de chegar lá. O minúsculo arquipélago do Bahrein, por exemplo, classificou diversos atletas nas finais de atletismo e conseguiu duas medalhas. Nascidas no Quênia e competindo pelo Bahrein, Ruth Jebet levou o ouro nos 3 000 metros com barreiras; Eunice Kirwa foi prata na maratona.
Em vez de investir na formação de atletas, o Bahrein usou uma estratégia mais dramática. Naturalizou-os. No atletismo, com 31 competidores na Rio 2016, seis são etíopes, cinco são quenianos, quatro nasceram na Nigéria e outro no Marrocos.
O caso não é isolado. Catar e Emirados Árabes Unidos também usam do expediente. “Não é uma questão uterina, é uma questão petrolífera. O melhor time que o petróleo pode comprar”, explicou-me Iberê de Castro Dias, o juiz voador, que comenta a Rio 2016 in loco para a edição brasileira da Runner’s World.
IBERÊ DIAS, O JUIZ VOADOR
JQC NA RIO 2016
JCQ EM OLYMPIA, NA GRÉCIA, ONDE TUDO COMEÇOU
EM COPACABANA, O HOMEM QUE MAIS ENTENDE DE FOGO E PIRA
RUNNER’S WORLD DEIXA A EDITORA ARVOREZINHA
Sabe-se que algumas estrelas do atletismo nascidas na África competem por suas pátrias de adoção. Mo Farah, que ganhou no Rio os 10 000 metros após cair na pista no começo da prova, e assim arrebatou (mais um) ouro para a nova potência do esporte, o Reino Unido, nasceu na Somália. Mas, como aponta Iberê, Mo é filho de britânico e “tem motivos razoáveis para a naturalização”. “No caso do Bahrein, creio que essas quenianas não passaram a infância, ou estudaram, ou viveram por lá.”
Representar o próprio país na Olimpíada parece ser um ideal que está (ou deveria estar) além das questões de grana. Mas criticar imediatamente quem opta pela mudança exige algum conhecimento de causa. O nigeriano Francis Obikwelu, por exemplo, não foi auxiliado pelas autoridades esportivas de seu país durante o tratamento de uma lesão, o que o motivou a adotar Portugal como sua nova pátria.
Para a Terrinha levou a prata em Atenas 2004. É difícil imaginar que Portugal alguma vez tenha sonhado em ter um velocista fazendo 9,86m nos 100m – apenas cinco segundos acima da marca vitoriosa de Usain Bolt domingo.
O patriotismo é o último refúgio do canalha, reza o famoso e grave ditado. Sendo assim, deixar a pátria nos torna menos crápulas?