Eu quero uma casa no campo

Paulo Vieira

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O inverno este ano só apareceu no dia do jogo Argélia e Alemanha, e ainda assim, ao que parece, circunscrito ao Paralelo 30. Os gringos que estiveram na Copa devem ter pensado “Isto sim é lugar pra viver” com aqueles dias de céu azul e as mínimas de 15 em São Paulo e 18 no Rio.

Ainda bem: se está fazendo friozinho, é só bem pela manhã, mesmo assim suficiente para fazer do cobertor um lugar muito melhor que o parque. Sim, é duro: você acorda e já encontra o treinador. E o que ele tem para hoje? Tiro! Subida!

Mas já que falta uma semana para o fim das férias escolares, vai aqui minha sugestão de viagem para aproveitar o inverno no Sudeste, com as crianças ou sem elas.

E com muito lugar para correr: para quem não se importa com subidas e pirambeiras na descida, esse é o verdadeiro idílio rural.

Gonçalves. Ou Gonça, como diz, sem forçar a intimidade, o Gesu Bambino.

A cidade mineira que faz divisa com Monte Verde e São Bento do Sapucaí já é bem conhecida dos paulistanos, que compram terras lá, inflacionam uma barbaridade o lugar e fazem surgir restaurantes com “propostas gourmet” e chefs que vivem em Barcelona. Mas dá para passar uma semana lá gastando pouco.

Gonçalves, algum lugar entre Terra Fria e Campestre
Gonçalves, algum lugar entre Terra Fria e Campestre

 

Ele não quer que eu fale disso aqui, mas o Gui Cavallari cobra pouquinho, 60 pratas, pela estadia em seu Refúgio Kalapalo. Não quer que eu fale não por modéstia excessiva, ou aversão ao lucro, mas por buscar hóspedes afins, que curtam muito a natureza e mais ainda a prática de esportes outdoor.

É por isso que ele promove cursos de mountain bike e expedições selvagens diversas, como você pode ver nesta agenda.

Desfrutei de três noites de sua companhia, da Adriana e dos visuais impressionantes da antiga Fazenda Campestre, a 12K do centro da cidade. E fiz duas corridas inesquecíveis: a primeira durou quase 3h40, considerando algumas paradas e as arregadas em algumas subidas sem fim. Tinha que abrir e fechar porteiras à farta, o visual das pedras Chanfrada e do Forno, igrejinhas bucólicas, mata de araucária e nenhum carro cruzando o caminho.

Depois banho e comida caseira no Mantiqueira (17 reais à vontade o bufê) ou na Vilma (25 reais, mesmo esquema, mas com direito a carne ou ovo frito).

Como uma criança – ou uma mula – que empaca quando não quer sair de um lugar, foi bem difícil voltar de lá. A minha empacada foi na Serra da Balança.

(to be continued)

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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